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poesia

4 poemas de amor
qualquer samba triste, a chuva no domingo tuas mãos para as conchas teus olhos que eu toco - as ventanas abertas - o chão tão gélido me alegra. 
sobre voos altos
os pássaros cantam e se agitam feito crianças pela manhã Maritaca Bem-te-vi sabiá cantam suas melodias esperando respostas quando não as tem repetem uma duas três muitas vezes até se distraírem
Manual de Sobrevivência
Estou sempre diante da certeza de que vou ter sede. Mas no fundo não é tão difícil imitar um cacto e repousar espinhosamente na paisagem da varanda  ou da sala. 
Trava-língua
you know what i've learned from you? sabe o que eu aprendi com você? not to say more than you have to. não dizer mais do que seja realmente necessário pra si. i've learned about art. eu aprendi sobre arte. as a state of stuff. como um estado das coisas. como uma presença moldável mas não óbvia. not so deep. as something to digest but also enjoy as a joke.
para pamella
o poema estica as mãos pro alto pra alcançar as frutas no pé como quando eu tinha dez e minha irmã oito
O Mercador das Almas
Moro em um país pobre e, contudo, não sou eu o pobre deste país. Habito a periferia do vasto mundo, mas não estou na periferia da periferia. Estou à deriva por alguma margem perdida, mas não sou eu o marginal do rumo.
Querida, o tempo amansa a gente
aprenderei aos poucos a rezar como você tentou me ensinar tantas vezes a cativar os pássaros a não temer a gente a andar pela rua observando o mato que resta entre nós
3 poemas de Flávia Muniz
Dei a falar com o tempo O que não disse ao luar da noite Dei a falar com as horas Numa língua qualquer Que só entendem os anjos Filosofemas de rogação.
Vida, Capitalismo e Literatura: alguns apontamentos
Como começar? Como começar um mundo, ou antes, como começar em um mundo que parece se aproximar do fim? Por que começar? Estas não são apenas perguntas que fazem o pensamento girar, são perguntas que estão na ponta dos dedos, e quando elas circulam como sangue pelo corpo, quando elas deixam de ser apenas pensamento para serem perguntas-letras, algo da resposta já se insinuou...
segunda – poemas e fotos
às vezes é bom ser gato. - digo isso enquanto faço carinho nas costelas do meu que me mostra gentilmente seu canino esquerdo. coisa que eu só sei fazer com o direito.
Conversa nº5 – Leonardo Marona
encontrei leo num momento difícil do dificílimo ano de 2018. na semana anterior victor heringer tinha feito a passagem e um ou dois dias depois marielle seria assassinada. cheguei na livraria da travessa de botafogo mais pro final da tarde quase noite. conversamos ali dentro, numa espécie de jardim de inverno muito utilizado pelos fumantes, eu acho. leo joga nas onze e já publicou livros de poesia, conto e romance. além disso, é o cantor da Dibuk Motel e trabalha há anos como livreiro
Como minha vó me ensinou
como minha vó ensinou acordo todas as manhãs e rezo ajoelho em qualquer que seja o leito e me vejo em toda dor que me caiba no peito então os joelhos são ardidos quase sempre encardidos mas eu não eu não fiz nada
Conversa nº4 – Adelaide Ivánova
esta entrevista foi feita em dois dias diferentes, com pouco mais de uma semana de diferença entre eles. no dia 31 de julho de 2018, ano da morte de marielle e da queima do museu nacional, encontrei adelaide ivanova em berlim, onde tinha ido para visitar minha mãe. no dia mais quente do ano, fomos, junto com naomi baranek e victinho vasconcellos, ao krumme lanke, um famoso lago da cidade, e talvez o mais agradável de todos. sentamos na areia e, depois de um mergulho, começamos a conversar.
Alguns poemas
sem internet na cidade capital do sol. com chuva. há dias. organizar os pensamentos questão de v1d4 ou morte. sob risco. apalpar as urgências, mesmo criá-las novas e de novo. a cabeça debaixo d`água numa piscina azul que reluta aceitar a condição de bacia e transborda. as bordas. mais de 1 minuto debaixo dágua tentativa e erro. submersão abrutalhada respiração feita do parto escute - o som é iletrável - puxe o ar com força e susto-agora. impressão de nascer de novo sob o contorno de outras águas.
epígrafe
quem de ferro fere o fogo quem de quase fura o corpo qual carícia em tempo firme qual malícia escapa à sorte
Dois poemas
Canta a Deusa às Musas invertidas A cólera de Lethes, a moderna filha: Museográfica flama, ars do passado, Da ruína da história, um esquecimento Da Memória.
Poema de Bianca Pataro
o silêncio é uma estrada e a distância cavada pelo vazio é intransponível cada passo dado é um desvio entre frases suspensas, traçado de fuga aberto em picadas na longa vertigem erguida pelo nada dito
Dois poemas
só falaria deles em frente a todos que pudessem ouvir pra minha sorte senhorzinho era mudo quisesse ouvi-lo teria de olhá-lo quisesse olhá-lo acabei por desejar surdez mas senhorzinho enxergava que era uma beleza
Três poemas
o sossego do meu pai quando, nas manhãs de chuva ou de sol, separa as sementes enquanto, sentado no rio, observa o fluir rasteiro e redondo das águas, a voz serena e ruidosa da água.
Guilherme Zarvos
Há ou havia um crime Que já não se diz, talvez lírico Demais – flor ou projétil: Patas no peito – o som Do tambor: roleta russa Em têmporas
Considerações sobre o poeta dormindo
Além de tudo, porém, uma observação se faz necessária: a poesia não está no sono, no sentido em que ele constitua um reservatório, do qual, em sucessivas descidas, o poeta nos aporte os materiais de seu lirismo. O sono predispõe à poesia.
Poemas não recolhidos em livro pelo autor
De inexplicáveis ânsias prisioneiro Hoje entrei numa forja, ao meio-dia. Trinta e seis graus à sombra. O éter possuía A térmica violência de um braseiro. Dentro, a cuspir escórias.
há sinais no sol
há sinais no sol — convulso — além da conta na lua tão perigosamente próxima alucinado mar em ondas gigantes terra que geme e se contorce ...
Corpos onde a cidade se repete
Corpos onde a cidade se repete: (depois de derramar antigas bocas sobre outra água): quase elidem alguns órgãos alarmados — em meio às ferragens — no casulo do calendário? ...
Poemas
O antônimo de gaveta é folha Porque a gaveta é um corpo que se guarda para dentro no escuro do segredo ...
em meio de cipós de algodão e feixes solares cai nu – no mar onde o barco bêbado jamais navegou...
Faca
Com um pedaço de faca é possível talhar uma casa é possível talhar uma porta um poço um poema eu você dois espelhos refletindo o espaço vazio da sala o gato dormindo sobre a estante eu você sorrindo sempre ...
eco
A cabeça um fervo, mistura de afeto piadas que perdem qualquer lastro com a graça da quebra inicial - cesura no claustro - e continuam no embalo, no frevo, já na sua terceira, quarta variação modal ...
Poesia de Esquina – Entrevista com Viviane de Salles

“Ter uma vida culturalmente ativa é muito caro. Então, o que é o acesso à cultura? A gente não tá fazendo sarau porque a gente quer ter acesso à cultura, a gente é a própria cultura. A gente tá invertendo uma parada. A gente quer ter acesso a tudo, tudo que é produzido."

mangue
é pouca a luz e eu aproveito pra te pedir que percorra o teu mangue que disseque com os pés o pavor do real e só então diga da casa das janelas dos relógios das posturas ...
O que os vivos fazem
Jão, a pia da cozinha tá entupida há dias, algum talher deve ter caído lá dentro. E o dreno não funciona mas fede, e a louça imunda se empilhou esperando pelo encanador que eu ainda não chamei. Esse é o dia a dia de que falávamos.
A temporada dos dinossauros
antes que ele bata eles abrem a porta e se entra com a bota borrada de barro e lama eles trazem logo o melhor tapete da casa enquanto ele nos fala sonhos de grandeza ...
Editoras Independentes – EP 02
Neste segundo episódio da web-série Editoras Independentes, perguntamos à Azougue, Oito e Meio, Cozinha Experimental e Oficina Raquel sobre a trajetória de cada editora, as possibilidades abertas pelas novas tecnologias, alternativas de distribuição de livros em pequenas tiragens e relação com os autores.
Mãepai
Pai, te devolvo meu olhos pois cansaram de juntar tanta luz derramada sem fundamento sobre terra fugaz. Mãe, te entrego meus cabelos que o vento liberou daquele sulco escuro em meu pensamento.
Chiado
escuta bem: já ouviu um disco daqueles de vinil? o ruído, o chiado o zumbido que faz após a última faixa é o disco dizendo que chegou ao fim ...
Foto de Prisca Agustoni
"Esse dilema do processo de criação é uma outra maneira de ressaltarmos a tensão 'enraizerrante', que confere à experiência poética a possibilidade de dizer-nos que aquilo que nos fixa no tempo e no espaço, na vida pessoal e coletiva só o faz porque se move e se transfigura continuamente."
sebastós
se andamos como lestrigões cortando o céu amarelo e o asfalto estriado se somos como lestrigões e o mundo passa rápido ...
Editoras Independentes – EP 01
Neste primeiro episódio da web-série Editoras Independentes, perguntamos à Azougue, Oito e Meio, Cozinha Experimental e Oficina Raquel sobre o que significa ser uma editora independente, o papel do editor, a relação entre editoras independentes, as dificuldades do mercado e as diferenças frente às grandes editoras.
vê
vê ao longe o adesivo de prioridade descolando da parede opaca do metrô onde empurram como uma onda de carne e ar que me impede o futuro...