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Dois poemas

setembro, 2018

 

Queima Nacional

Canta a Deusa às Musas invertidas
A cólera de Lethes, a moderna filha:
Museográfica flama, ars do passado,
Da ruína da história, um esquecimento
Da Memória. Musa chorada sob fina chuva
Em pira melancólica que fabrica a imagem
Nua de um edifício sedimentado pelo barro
Movente da chama. Se chamado o Verbo, a Ira
De Ares, mártir das mínimas e simplórias
Tragédias humanas. Mítica ode que Luzia
Em final silencioso os estalidos consumidos
À cova rasa desse segundo genocídio,
A convivência com o passado (um estampido)
Por cinzas soterrado, caveira de granito
Naufragada no fogo do sufoco. Se esqueço,
Já não sabemos. Opacos, se não lembramos
A dimensão da perda, a queda de Alexandria
Que retumba pelas negras paredes condenadas
Como as línguas novamente jamais evocadas,
Se algum dia pelos sambaquis já ouvidas,
Seus gritos enfurecem a Deusa morticínia!

***

Ode ao Resistente

Surge o momento aberto, incomensurável —
e funda a hora repressiva desde a falsa
esquina democrática, a logo resvalar-se
em mendaça farsa, de quem togado persecute
o erguido nos ombros largos da história,
em pé, firme, em partido — um poder tomado –,
e agora perdido, sequestrado, preso
como o velho companheiro — o esquecido –,
mas, solidário, ao saber do novo, resplandece
contra o antigo corroído, a não dobrar-se
aos caprichos aristocráticos, aos pérfidos donos,
estúpidos vermes, inimigos da liberdade,
a que se esvai nas lentes distorcidas
das escancaradas câmeras míopes. — Mas o resistente!
Aquele que se aumenta sob ataque, que renasce
a cada pedra, cada ameaça, sabe
a quem se presta servir — a todas as gentes,
às massas, à luta impaciente das classes.
E, mesmo quando a nega, reconhece: faz parte
e aglutina — um nome, uma ação, o chamado
que faz eco entre as pernas acovardadas
dos inimigos de fáscio e cólera baça —
“Covardes!, vermes! Falta-me a piedade
para sequer considerá-los!”, a ilusão repleta
de um dia que tarda em sua apressada falha:
o juíz, infeliz, lavra — “Serás domesticado!”,
até que ruges — “Para trás, covarde mentiroso!”,
Que, no alto, vingas por fustigada luta, a permanecer
quieto, em sintonia contra pesado teatro; —
É que sabes do disfarce, a estratégia-diversão,
e o dever de invocar a teimosia, o ato consequente
de quem se autodefende — criar a forma popular,
a normal civil desobediência — até vencer, até ganhar!

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