conversa à toa
– quer dizer, então, que os insetos não
sentem afeto?
– você poderia pisá-lo agorinha mesmo
esmagar com a sola
do seu sapato
aquela formiga ou aquele percevejo
– e eles, ainda assim, não sentiriam nada?
– isso mesmo
– mas e se eu arranco, tadinho
com a maior perícia
antena por antena
e as suas patinhas…
– não sente nadinha
– como são insensíveis esses insetos
nas profundezas do raso
ali sim.
ali dá pé
boto fé, você
tome cuidado pra não
se afogar nessa tempestade
que anuncias, apesar me pareça
não haver muito mais que quatro dedos d’água
nas igrejas do rio
+
jesus
no telhado
pôs a mão no peito
(o coração em fogo,
acorrentado)
apontou pra
mim e disse:
do fundo do mar
quando o olhar encontra o teto
ela ainda pergunta
por mim
– onde estive, com quem, se bebi?
enquanto ela afunda, lentamente
a escuridão dá o contorno
que o mais
é pura ausência
e quando os séculos já tiverem enfim corroído
esta rocha basilar que me dispõe ao novo
– lá de baixo muito fundo
subirá um ruído assombroso –
e conversarão em destino dentre outras coisas
enfim
questionarão sem censura
(o povo que a mim sucedeu)
– de onde vem assim, límpida e pura
este óleo negro, quem te fez assim
pré-sal
do meu coração?
fui eu