às vezes é bom ser gato.
– digo isso enquanto faço
carinho nas costelas do
meu que me mostra gentilmente
seu canino esquerdo.
coisa que eu só sei fazer
com o direito.
chegamos ao pomar
Já não há laranjas
digo eu sei e ele, que a culpa é do jaguar
eram ferozes, feras ferozes, que vinham sentiam o piscar dos olhos, as pálpebras dobrando, arrefecendo. nisso que saíram, aos poucos, casais de muitos tipos, os dentes sobrando pra fora, a boca mordida pra dentro, lábios carnudos. vultos ou sombras, aquilo que se espiava, o mudo o mudo barulho que se ouvia.
Canta a Deusa às Musas invertidas
A cólera de Lethes, a moderna filha:
Museográfica flama, ars do passado,
Da ruína da história, um esquecimento
Da Memória.
o silêncio é uma estrada e a distância cavada pelo vazio é intransponível
cada passo dado é um desvio entre frases suspensas,
traçado de fuga aberto em picadas na longa vertigem erguida pelo nada dito
“Esse dilema do processo de criação é uma outra maneira de ressaltarmos a tensão ‘enraizerrante’, que confere à experiência poética a possibilidade de dizer-nos que aquilo que nos fixa no tempo e no espaço, na vida pessoal e coletiva só o faz porque se move e se transfigura continuamente.”
eu apago a luz do jardim
e fecho as persianas
a lagoa lá longe
com suas colunas de luz
e a moldura das árvores
que sucessivas gerações
…
Às vezes, quando choro, procuro um
sobrepeso qualquer no corpo, um distúrbio
qualquer no rastro. O baque e todos nós
na beira do caminho, em conformidade com
as rochas que não conseguem subtrair os
próprios esforços…
em meio ao nevoeiro
as estrelas explodiam
no universo do meu peito
tua galáxia distante
se aproximava
na velocidade da luz
o tempo não existe
nem importa
…