pesquise na USINA
Generic filters

artigo/ensaio

Lygia Clark - Caminhando (1964)
“O influxo externo é que determina a direção do movimento” Machado de Assis A frase de Machado de Assis que serve como epígrafe deste ensaio continua assim: “não há por ora no nosso ambiente a força necessária à invenção de doutrinas novas”. Estamos em 1877, ano em que Sousândrade escrevia e publicava em Nova York […]
Cinema, a arte do espaço
Os limites da tela de cinema não são, como o vocabulário técnico daria por vezes a entender, a moldura da imagem, mas a máscara que só pode desmascarar uma parte da realidade.
Ilustração (2019), Bendita Gambiarra
O sertão de João Guimarães Rosa é um mundo que só existe como linguagem. Escrito em língua estranha, costuma assombrar leitores, que se queixam por não compreendê-lo de todo ou apenas de forma presumida e bastante duvidosa. Uma dificuldade que afugenta incautos e desconcerta até mesmo o mais miguilim de seus leitores, o tradutor, que […]
Foto: Julio Stotz
O começo, ou aquilo que ritualizei como começo, do processo de criação que vou partilhar com vocês é feito de fios decopulantes, tecido com mãos artesãs, olhos alfaiates e pés andarilhos. Considerando que as coisas estão em processo de continuidade e a vida parece ser um fluxo em ação vital, começar algo é se propor a vivenciar um rito de passagem.
Panaceia marciana
O presente de natal chegou mais cedo naquele 07 de dezembro de 1972 quando nós humanos pudemos avistar pela primeira vez a imagem cabal da Terra intitulada Blue Marble. Ela não foi a primeiríssima imagem da Terra. Esta aconteceu um ano após o fim da Segunda Guerra, logo depois que os Estados Unidos capturaram os foguetes V-2 (“Vengeance Weapon Two) da Alemanha junto a alguns engenheiros nazistas e os levou – foguetes e engenheiros - para a famosa base desértica do Novo México.
Entre Gota e Gole
Quando temos sede e vemos uma gota, pode dar vontade de tomá-la. Mas até a ação de engolir acontecer, diversos movimentos surgem. A espera, o quase, a pausa, o passo, a abertura da mandíbula, o peso da gota caindo no ar.
Queda Livre
Conforme em queda livre é que percebo, não sem pingos de alívio salgados a desaguar na boca: aqui não há perigo. Conforme suavizo os joelhos e respiro é que vejo: do chão não passa. É preciso dar vazão à raiva, para que ela não nos consuma num caminho sem volta. Não há risco em cair, há prazer. Um tesão a envolver o mundo em queda livre.
Foto de Vitor Faria
Existe uma questão que antecede todas as outras. Às vezes a sentimos com clareza, nos desafiando; outras vezes só podemos suspeitá-la, abafada pelo alarido de um mundo cada vez mais técnico e informático. É certo que quando falamos em uma questão primeira, que antecede às outras, não é no sentido cronológico; ela não é uma questão que questionamos antes de todas as outras, é a questão que não podemos deixar de questionar em cada questionamento.
É possível ser otimista numa pandemia?
Vivemos uma crise global, com um potencial de letalidade semelhante às grandes guerras. O impacto da crise, duplo, econômico e sanitário, expõe de maneira clara as contradições e sensibilidades no nosso modo de vida: a vulnerabilidade dos trabalhadores informais e da gig economy; a demanda por um Estado presente num mundo que rejeita o público e aquilo que é comum; o conflito e a sobreposição entre fato e opinião; nossa relação, tão confusa, com a carne, com os nossos e com a alteridade.
Vida, Capitalismo e Literatura: alguns apontamentos
Como começar? Como começar um mundo, ou antes, como começar em um mundo que parece se aproximar do fim? Por que começar? Estas não são apenas perguntas que fazem o pensamento girar, são perguntas que estão na ponta dos dedos, e quando elas circulam como sangue pelo corpo, quando elas deixam de ser apenas pensamento para serem perguntas-letras, algo da resposta já se insinuou...
Verdade e ponto de vista
Em um mundo de não-senso, ou seja, de sentido desprovido de sentido que, nem por isso, se apresenta como ausência, mas ao contrário, que assume a totalidade do poder ser, ainda que se torne um poder ser que aniquila o próprio sentido, é preciso que, como Platão, saibamos reconhecer as ambiguidades e as falsidades da e na dinâmica histórica.
O passado é outro país
“E ontem à noite o último capítulo da novela Avenida Brasil parou o país. Às nove da noite, ruas e avenidas vazias em todo o país. O Brasil parou em frente à televisão.”1 Minha lembrança de Avenida Brasil é que foi a última coisa que uniu o país. Ou, melhor dizendo, foi a última vez […]
Nascimento da rosa verdadeira / Ernesto Giovanni
A crise que hoje atravessamos é uma crise de visão de mundo, de civilização. É, portanto, uma crise de sentido, uma crise de caráter espiritual. Entendemos “visão de mundo” como trama de representações, conceitos e valores por cuja mediação os homens tecem sua inserção na vida. E é exatamente essa tessitura, ou esse paradigma que nos dias de hoje, em todos os países e em cada lugar, está como que esgarçada.
Rio Gótico Tropical
A cidade larvar continua funcionando segundo uma outra inteligência do espaço que revela uma cultura oral anterior e mais forte do que a solidariedade da banalidade. Não trata-se de analfabetismo, mas de pensamento empírico que se reflete nas formas de caminhar pelas quebradas da cidade.
glitch art de Jabal Murbach
“Para construir, modificar e transformar a cidade, a multidão anônima é frequentemente um protagonista tão importante quanto os grandes autores”.(SECCHI, Primeira Lição de Urbanismo, 2006) 1. “Vinheta quebrante”1 Um financiamento coletivo para construção de uma piscina flutuante em um rio, um rodízio de moradores para trocas de baterias de sirenes de alerta de tsunamis, uma […]
Antimatéria: O Universo sem Espelho

A ideia de antimatéria fascinou e continua fascinando os aficcionados por ficção científica desde o surgimento desse conceito, que ocorreu em meados da década de 1930, logo depois da descoberta experimental do pósitron, a antipartícula do elétron.

Museus no século XXI, mídias digitais e compartilhamento de autoridade (Parte I)
O que afeta essas lógicas de exposição são as demandas por representatividade e por divisão de autoridade curatorial sobre exposições. Aqui, também é relevante lembrar que à medida que povos indígenas do mundo todo passam a popular o mundo digital, coleções etnográficas também necessitam se adaptar a esses novos tipos de artefatos.
Variações sobre o Matriarcado
Uma criança adentra, pé ante pé, o quarto onde sua mãe está a dar à luz; em meio à surdez dos gemidos, à cor berrante e o sangue, ela percebe, quiçá como primeira vez, que possui um umbigo.
A autogestão de uma oficina
Como funciona autogestão? Dá para produzir sem ninguém mandando? Ou vira tudo uma bagunça, um jogo de empurra, uma terra de ninguém? Na Escola de Desenho Industrial da UERJ, a Esdi, já faz um ano que estamos experimentando com autogestão. Em meio a uma grande mobilização contra o desmonte da universidade pública, em 2016 assumiu […]
Editoras Independentes e Trabalho Artístico
Mercado e economia editorial A análise das configurações das editoras independentes relacionam-se às transformações promovidas pelas tecnologias da informação e da comunicação, assim como são parte de um contexto mais amplo que informa o movimento de legitimação, proeminência e conveniência da cultura e do entretenimento dentro da cadeia produtiva recente...
Holy Bible – A Divina Violência
Pegar o livro, abrir uma página aleatoriamente, fechar os olhos, deslizar o dedo indicador pela página. Em seguida, deter a mão erradia, abrir os olhos, fitar o livro e interpretar o fragmento textual eleito ao acaso.
O Fiel Camareiro em três atos
Em tempos de angústia e desilusão, quando inimigos de diversas feições aparecem para sugar a esperança de todos nós, de alguma forma a arte tem apresentado a característica de ser inabalável frente às adversidades, às vezes último repositório de sensatez e verdade num mundo fajuto.
9+1 laboratório aberto – primeira experiência
9+1 laboratório aberto é um jogo curatorial proposto por Pollyana Quintella. A primeira situação expositiva aconteceu no dia 27 de junho, num apartamento vazio na Tijuca, com a participação de Aline Besouro, Amanda Rocha, Ana Hortides, Anais-Karenin, Bianca Madruga, Clara Machado, Inês Nin, Leticia Tandeta Tartarotti e Pedro Veneroso, depois de dois dias de ocupação.
Práticas artísticas, ações afirmativas
Por isso pensei em fazer um livro, na busca por concretizar esse diálogo que a mim e a tantos outros – como suponho – é capital. Quis elencar, através de um pessoal recorte, artistas de certo reconhecimento público que guardassem contato evidente com tais programas de apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade social nas universidades.
Casco: Os narradores da História em Nuno Ramos
O que Nuno mantém é a junção de elementos que soam díspares. O artista se apropria de questões de ordem histórica, geográfica, política e cultural, assumindo as formas como Walter Benjamin entende a escrita da história. Nuno Ramos é aqui, em Casco, o narrador-artesão.
Assêmico-Panssêmico
"O todo de um texto ou desenho aparece diante de nós como uma 'coisa' assêmica, indecifrável para o intelecto, que não reconhece a linguagem; mas, ao mesmo tempo, pode ser significativo (e, sim, belo) para o ... gosto, percepção ... solicitando algum tipo de empatia."
Encarnado
Um diálogo entre um homem solitário e a cidade grande, entre um sujeito tornado objeto e seus objetos tornados sujeitos, entre o orgânico e o inorgânico, o vivo e o morto, entre uma criança e seus brinquedos, apagando as fronteiras mais do que afirmando-as.
Jardim Atlântico
O mais impressionante é a capacidade de Jura Capela em atualizar para o Cinema o que Jorge Luis Borges afirmou na Literatura. "Desvario laborioso e empobrecedor o de compor extensos livros; o de espraiar em quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que esses livros já existem e oferecer um resumo, um comentário."
Os labirintos de Hélio Oiticica
O maior desafio de trabalhar com o Hélio é, sem dúvida, a entrega. Sua obra tem como premissa a possibilidade de mudança de rota, a possibilidade de mudar de ideia. Não existe objetivo, existe mergulho em um processo no qual ninguém saberá no que vai dar.
Béla Tarr e o Cinema da Indústria
"O Cinema da Indústria progrediu em mega-indústria e mega-cinema mas será que se manteve exatamente igual? Não é nenhuma surpresa que Cidadão Kane seja considerado o maior filme de todos os tempos, um filme sobre vender a si próprio correnteza abaixo, ao lado de bronze, madeira e carvão..."
Um lugar limpo e bem iluminado
Hemingway era um escritor de caráter prático, não um estudioso, e ele retira de estudiosos como James Joyce e Gertrude Stein apenas o que ele sentia que precisava.
Foto de Vitor Faria
Numa cidade empresa, o corpo humano é a principal matéria-prima do desenvolvimento econômico por absorção, ou seja a criatividade é o grande mote do jogo estrutural do capitalismo, devido à capacidade resiliente estar fortemente ligada à capacidade criativa de resolver problemas do sistema. Ensaio de Jeferson Andrade
A jovialidade de um Édipo à francesa
A perspectiva crítica de Malle parece destinar-se a uma abordagem do incesto na cultura ocidental como algo que está baseado em uma tentativa de universalizar as asserções do tabu, justificando cientificamente a interdição, bem como demonstrar como a proibição do incesto é um índice de como as sociedades ocidentais estão inteiramente estruturadas por uma série de questões ontológicas que buscam separar a cultura da natureza.
Teoria do Cinema Feminista – Parte III
Ainda que as feministas não tenham sempre concordado com a pertinência da psicanálise, há um consenso sobre as limitações de se focar exclusivamente na diferença sexual. Uma dessas limitações é a reprodução de determinada dicotomia, masculino-feminino, que precisa ser desconstruída.
Violência como drible discursivo: arte brasileira na ditadura
Os anos 60 e 70 no Brasil foram marcados por uma produção artística efervescente. Situados num contexto político delicado, protagonizado pela ditadura militar, foram o momento no qual era preciso repensar o fazer artístico e seu alcance e ressonância social. Ainda que as artes visuais fossem a categoria menos perseguida pela censura, muitos artistas do período produziram obras de caráter político e contestatório como forma de reagir ao regime vigente.
On Kawara is dead.
Os dias se tornam datas em Today Series, os acontecimentos do cotidiano perdem os referenciais subjetivos que são necessários na criação de nossas mitologias pessoais e passam a ser decodificados como data, traçando um vínculo apenas com o espaço em que foi materializada em tela pelo formato escolhido. Artigo de Aline Besouro
Som e mise-en-scène
Quando a câmera enquadra uma determinada paisagem, personagem ou objeto, aquilo que é deixado fora-de-quadro não vai mais aparecer. Porém com o som o processo já parece ser distinto. Por mais que determinado objeto, paisagem ou personagem não esteja em quadro, ele vai povoar aquela mise-en-scène de maneira tão radical como se estivesse visível.
Teoria do Cinema Feminista – Parte II
A explicação do “olhar masculino” como uma lógica estruturante na cultura visual ocidental se tornou controversa no início dos anos oitenta; ele não dava espaço tanto para a espectadora mulher quanto para o olhar feminino.
O Fantasma do Relevo no Cinema Contemporâneo
Que pontos comuns poderíamos encontrar nas trajetórias de Werner Herzog, Wim Wenders, Martin Scorsese, Peter Greenaway, Jean-Luc Godard, Jean Claude Brisseau e Bernardo Bertolucci? Muitos, é lógico, tendo em vista que se tratam de grandes nomes daquilo que poderíamos chamar de cinema moderno. Contudo, nos últimos anos, foram eles que despertaram certa surpresa ao proporem pesquisas estéticas e artísticas inovadoras a partir da utilização de uma tecnologia que há muito não atiçava a curiosidade por parte de cineastas ligados a um certo cinema “de arte”: o 3D (ou cinema em relevo).
Teoria do Cinema Feminista – Parte I
O feminismo é um movimento social que causou um impacto enorme na teoria e na crítica de cinema. O cinema é considerado pelas feministas como uma prática cultural que representa mitos sobre mulheres e a feminilidade, assim como sobre homens e a masculinidade.
Corpo em ruínas: a convulsão p(r)o(f)ética da palavra
Como adverte o próprio título/subtítulo, Corpo de Festim – Antropoemas, responde à necessidade de instaurar um olhar antropológico sobre a realidade humana, tanto em sua dimensão social quanto psicológica. Transcendendo a condição de mergulho catártico, os poemas de Alexandre Guarniei, a priori, sinalizam uma preocupação não apenas estética.
A crueldade de Dostoiévski, segundo Mikhailóvski
Alguns meses após a morte de Fiódor Dostoiévski, Nikolai Mikhailóvski, crítico russo muito envolvido com o movimento populista, de vertente socialista, e com política em geral, escreveu o artigo “Um talento cruel”. Este veio a ser muito famoso na história da crítica literária russa, pois seria uma síntese da visão que parte da esquerda russa tinha do autor, além do modo como ele foi enxergado na época da União Soviética.
12