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Mito, Filosofia e Literatura
Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade. Fernando Pessoa Com frequência, quando se pensa em mito e em mitologia, nos vem à mente a definição de uma narrativa ficcional ou fantástica, onde o elemento da fantasia imprimiria aos mitos um caráter de relato não-verdadeira, […]
Uma batucada no terreiro da Portela
I – INTRODUÇÃO O intuito deste ensaio é debruçar-se sobre essas fotografias da visita de Walt Disney na Portela veiculadas em jornais da época¹. As imagens não são encaradas pela perspectiva de que são capazes de descrever objetivamente uma realidade, mas sim como o resultado de um encontro de protagonistas imbricados em relações políticas e […]
Um espaço que fosse só língua
Sempre me perguntei o porquê não sonhei em ser astronauta. Era como um defeito de infância, um pecado da imaginação. Em momento algum os astros me fascinaram . Todo o imaginário de um espaço lá fora, um imenso espaço inteiro por ser descoberto, não se materializava também em mim. Disseram-me ser isto, ser criança. Ser […]
Serendib
Serendib é um ensaio experimental que a partir da ideia de serendipidade – descobertas que acontecem ao acaso – nos apresenta um dos maiores câmeras do cinema brasileiro: Dib Lutfi. Dividido em 7 partes, o texto transcorre com associações e curiosidades em torno da figura de Dib e sua participação crucial no Cinema Novo, assim […]
Catimbó Zen
Fabulações sobre a Consciência sem Sujeito: diabruras entre Exu, Rumi, Lévi-Strauss e Foucault Em “Isso não é um cachimbo” – ensaio para lá de trabalhoso de ler, continuar lendo e apreender o que sejam as tais diabruras entre uma pintura e as escrituras que lhe acompanham – Michel Foucault propõe a existência de uma espécie […]
Uma Visão das Coisas – Parte 2
Texto publicado no livro Architektur Denken, da editora suíça Birkhäuser. “Eine Anschauung der Dinge” é uma palestra proferida em 1988 no Southern California Institute of Architecture. Nota do Tradutor A USINA traduziu a versão em inglês “A Way of Looking at Things”, de Maureen Oberli-Turner, (Birkhäuser, Estados Unidos), do texto original. Mas também utilizou a […]
Livro Pêndulo
O Livro Pêndulo é fruto da amizade entre o músico Marco Antônio Guimarães, do grupo Uakti, e a multiartista Julia Baumfeld, que ao longo dos anos reuniu materiais colecionados nos encontros e trocas entre os dois. Feito com bastante esmero e intimidade, o livro começa com uma sequência de desenhos e rascunhos que culminam na […]
Sobre a Invisibilidade da Madeira
Tradução e edição (com reduções) do texto publicado originalmente em espanhol em 2012 na revista chilena Ciudad y Arquitectura, nº150. A USINA entende que o debate arquitetônico sobre o uso de materiais no Brasil e na América Latina – para além do pragmatismo de uso – tem um viés político. Uma das discussões que têm […]
Milton Nascimento, 1977. Foto: Olívio Lamas / Agencia RBS
Este ensaio se propõe, de maneira despretensiosa, a correlacionar algumas produções artísticas brasileiras com a filosofia africana, bem como pensar a influência da cosmovisão africana sincretizada no Brasil via expressões e narrativas transpostas na musicalidade – com enfoque na obra de Milton Nascimento.
O Porto de Santos (1978)
Quando nos deparamos com os curtas-metragens feitos pelo cineasta brasileiro Aloysio Raulino entre 1970 e 1986, construídos em torno de ideias mais do que de histórias, repletos de citações sonoras e textuais, estruturados como colagens de fragmentos, somos tentados a aproximá-los à tradição do filme-ensaio. Sim, esses filmes são muito mais subjetivos do que os […]
Fotografias, vídeo e edição: Mayra Azzi
Neste artigo eu vou compartilhar o que tenho praticado e pensado sobre Corpo, Espaço, Movimento e Vazio desenvolvido a partir da minha prática com o Qi Gong. Proponho o encontro do conceito de Qi e de Vazio, expressos na cultura chinesa, com alguns versos do texto “Co-sentindo com Ternura Radical”, para formular pequenos rituais que poderão ser incorporados no dia-a-dia das pessoas que entrarem em contato com o presente artigo.
Pulmões, Lucas Lugarinho
o principal erro ao tratar de Serras da Desordem é focar na dicotomia documentário-ficção é uma tentativa vã tentar classificar uma obra, mesmo que por sua pluralidade de pretensas definições, quando para além desse amálgama existe uma unidade, merecedora de se chamar apenas: cinema
“Eu não sei nadar…”: Riobaldo e a práxis da existência
O título escolhido para este ensaio, “eu não sei nadar”, é uma frase proferida pelo narrador-personagem – Riobaldo – da obra-prima de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. Obra-prima? O que é uma obra-prima? Obra alude a trabalho, produção de um artista, cientista, artesão, etc Por exemplo, quando chamamos um pedreiro para consertar algo em uma […]
Por uma Revista de Invenção
O que é uma revista de invenção? No Brasil, o termo “invenção” nos remete invariavelmente para Pound e seu uso nas vanguardas tardias, como descoberta ou elucidação de um novo processo. Mas é possível expandir esse conceito, no presente caso, para uma revista que não trabalhe apenas com a reprodução de originais externos, restringindo-se a […]
Uma volta ao mal, ensaiando
I Há uma passagem terrível em 2666 de Roberto Bolaño. Quem conhece o livro, sabe que boa parte do que ali está talvez ache em “terrível” sua melhor e mais concisa descrição. Me refiro, entretanto, aos chistes dos policiais, ao café da manhã, alguns dos quais participavam ativamente das investigações sobre as mulheres mortas em […]
A Queda para o Alto
No alto do Morro de Santo Antônio, contraponto do Edifício Central no Largo da Carioca, está a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, local de meditação silenciosa em meio ao som mal distinto do centro do Rio de Janeiro. No altar, uma das figuras mais alucinantes do barroco colonial brasileiro, uma rara […]
Zohra Opoku - Ficus Carica (2015)
Numa segunda-feira de céu aberto e calor baiano das quentes tardes dezembrinas adentrei a Feira de São Joaquim, através dos passos largos de Èsù, a esfera da vida rueira que cheira mar conduziu minhas mestiças pernas por entre os labirintos coloridos daquela imensidão ancestral. Grapiúna que sou, me dei conta da magnitude africana no esbarrar […]
Lygia Clark - Caminhando (1964)
“O influxo externo é que determina a direção do movimento” Machado de Assis A frase de Machado de Assis que serve como epígrafe deste ensaio continua assim: “não há por ora no nosso ambiente a força necessária à invenção de doutrinas novas”. Estamos em 1877, ano em que Sousândrade escrevia e publicava em Nova York […]
Cinema, a arte do espaço
Os limites da tela de cinema não são, como o vocabulário técnico daria por vezes a entender, a moldura da imagem, mas a máscara que só pode desmascarar uma parte da realidade.
Ilustração (2019), Bendita Gambiarra
O sertão de João Guimarães Rosa é um mundo que só existe como linguagem. Escrito em língua estranha, costuma assombrar leitores, que se queixam por não compreendê-lo de todo ou apenas de forma presumida e bastante duvidosa. Uma dificuldade que afugenta incautos e desconcerta até mesmo o mais miguilim de seus leitores, o tradutor, que […]
Foto: Julio Stotz
O começo, ou aquilo que ritualizei como começo, do processo de criação que vou partilhar com vocês é feito de fios decopulantes, tecido com mãos artesãs, olhos alfaiates e pés andarilhos. Considerando que as coisas estão em processo de continuidade e a vida parece ser um fluxo em ação vital, começar algo é se propor a vivenciar um rito de passagem.
Panaceia marciana
O presente de natal chegou mais cedo naquele 07 de dezembro de 1972 quando nós humanos pudemos avistar pela primeira vez a imagem cabal da Terra intitulada Blue Marble. Ela não foi a primeiríssima imagem da Terra. Esta aconteceu um ano após o fim da Segunda Guerra, logo depois que os Estados Unidos capturaram os foguetes V-2 (“Vengeance Weapon Two) da Alemanha junto a alguns engenheiros nazistas e os levou – foguetes e engenheiros - para a famosa base desértica do Novo México.
Entre Gota e Gole
Quando temos sede e vemos uma gota, pode dar vontade de tomá-la. Mas até a ação de engolir acontecer, diversos movimentos surgem. A espera, o quase, a pausa, o passo, a abertura da mandíbula, o peso da gota caindo no ar.
Queda Livre
Conforme em queda livre é que percebo, não sem pingos de alívio salgados a desaguar na boca: aqui não há perigo. Conforme suavizo os joelhos e respiro é que vejo: do chão não passa. É preciso dar vazão à raiva, para que ela não nos consuma num caminho sem volta. Não há risco em cair, há prazer. Um tesão a envolver o mundo em queda livre.
Foto de Vitor Faria
Existe uma questão que antecede todas as outras. Às vezes a sentimos com clareza, nos desafiando; outras vezes só podemos suspeitá-la, abafada pelo alarido de um mundo cada vez mais técnico e informático. É certo que quando falamos em uma questão primeira, que antecede às outras, não é no sentido cronológico; ela não é uma questão que questionamos antes de todas as outras, é a questão que não podemos deixar de questionar em cada questionamento.
É possível ser otimista numa pandemia?
Vivemos uma crise global, com um potencial de letalidade semelhante às grandes guerras. O impacto da crise, duplo, econômico e sanitário, expõe de maneira clara as contradições e sensibilidades no nosso modo de vida: a vulnerabilidade dos trabalhadores informais e da gig economy; a demanda por um Estado presente num mundo que rejeita o público e aquilo que é comum; o conflito e a sobreposição entre fato e opinião; nossa relação, tão confusa, com a carne, com os nossos e com a alteridade.
Vida, Capitalismo e Literatura: alguns apontamentos
Como começar? Como começar um mundo, ou antes, como começar em um mundo que parece se aproximar do fim? Por que começar? Estas não são apenas perguntas que fazem o pensamento girar, são perguntas que estão na ponta dos dedos, e quando elas circulam como sangue pelo corpo, quando elas deixam de ser apenas pensamento para serem perguntas-letras, algo da resposta já se insinuou...
Verdade e ponto de vista
Em um mundo de não-senso, ou seja, de sentido desprovido de sentido que, nem por isso, se apresenta como ausência, mas ao contrário, que assume a totalidade do poder ser, ainda que se torne um poder ser que aniquila o próprio sentido, é preciso que, como Platão, saibamos reconhecer as ambiguidades e as falsidades da e na dinâmica histórica.
O passado é outro país
“E ontem à noite o último capítulo da novela Avenida Brasil parou o país. Às nove da noite, ruas e avenidas vazias em todo o país. O Brasil parou em frente à televisão.”1 Minha lembrança de Avenida Brasil é que foi a última coisa que uniu o país. Ou, melhor dizendo, foi a última vez […]
Nascimento da rosa verdadeira / Ernesto Giovanni
A crise que hoje atravessamos é uma crise de visão de mundo, de civilização. É, portanto, uma crise de sentido, uma crise de caráter espiritual. Entendemos “visão de mundo” como trama de representações, conceitos e valores por cuja mediação os homens tecem sua inserção na vida. E é exatamente essa tessitura, ou esse paradigma que nos dias de hoje, em todos os países e em cada lugar, está como que esgarçada.
Rio Gótico Tropical
A cidade larvar continua funcionando segundo uma outra inteligência do espaço que revela uma cultura oral anterior e mais forte do que a solidariedade da banalidade. Não trata-se de analfabetismo, mas de pensamento empírico que se reflete nas formas de caminhar pelas quebradas da cidade.
glitch art de Jabal Murbach
“Para construir, modificar e transformar a cidade, a multidão anônima é frequentemente um protagonista tão importante quanto os grandes autores”.(SECCHI, Primeira Lição de Urbanismo, 2006) 1. “Vinheta quebrante”1 Um financiamento coletivo para construção de uma piscina flutuante em um rio, um rodízio de moradores para trocas de baterias de sirenes de alerta de tsunamis, uma […]
Antimatéria: O Universo sem Espelho

A ideia de antimatéria fascinou e continua fascinando os aficcionados por ficção científica desde o surgimento desse conceito, que ocorreu em meados da década de 1930, logo depois da descoberta experimental do pósitron, a antipartícula do elétron.

Museus no século XXI, mídias digitais e compartilhamento de autoridade (Parte I)
O que afeta essas lógicas de exposição são as demandas por representatividade e por divisão de autoridade curatorial sobre exposições. Aqui, também é relevante lembrar que à medida que povos indígenas do mundo todo passam a popular o mundo digital, coleções etnográficas também necessitam se adaptar a esses novos tipos de artefatos.
Variações sobre o Matriarcado
Uma criança adentra, pé ante pé, o quarto onde sua mãe está a dar à luz; em meio à surdez dos gemidos, à cor berrante e o sangue, ela percebe, quiçá como primeira vez, que possui um umbigo.
A autogestão de uma oficina
Como funciona autogestão? Dá para produzir sem ninguém mandando? Ou vira tudo uma bagunça, um jogo de empurra, uma terra de ninguém? Na Escola de Desenho Industrial da UERJ, a Esdi, já faz um ano que estamos experimentando com autogestão. Em meio a uma grande mobilização contra o desmonte da universidade pública, em 2016 assumiu […]
Editoras Independentes e Trabalho Artístico
Mercado e economia editorial A análise das configurações das editoras independentes relacionam-se às transformações promovidas pelas tecnologias da informação e da comunicação, assim como são parte de um contexto mais amplo que informa o movimento de legitimação, proeminência e conveniência da cultura e do entretenimento dentro da cadeia produtiva recente...
Holy Bible – A Divina Violência
Pegar o livro, abrir uma página aleatoriamente, fechar os olhos, deslizar o dedo indicador pela página. Em seguida, deter a mão erradia, abrir os olhos, fitar o livro e interpretar o fragmento textual eleito ao acaso.
O Fiel Camareiro em três atos
Em tempos de angústia e desilusão, quando inimigos de diversas feições aparecem para sugar a esperança de todos nós, de alguma forma a arte tem apresentado a característica de ser inabalável frente às adversidades, às vezes último repositório de sensatez e verdade num mundo fajuto.
9+1 laboratório aberto – primeira experiência
9+1 laboratório aberto é um jogo curatorial proposto por Pollyana Quintella. A primeira situação expositiva aconteceu no dia 27 de junho, num apartamento vazio na Tijuca, com a participação de Aline Besouro, Amanda Rocha, Ana Hortides, Anais-Karenin, Bianca Madruga, Clara Machado, Inês Nin, Leticia Tandeta Tartarotti e Pedro Veneroso, depois de dois dias de ocupação.
Práticas artísticas, ações afirmativas
Por isso pensei em fazer um livro, na busca por concretizar esse diálogo que a mim e a tantos outros – como suponho – é capital. Quis elencar, através de um pessoal recorte, artistas de certo reconhecimento público que guardassem contato evidente com tais programas de apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade social nas universidades.
Casco: Os narradores da História em Nuno Ramos
O que Nuno mantém é a junção de elementos que soam díspares. O artista se apropria de questões de ordem histórica, geográfica, política e cultural, assumindo as formas como Walter Benjamin entende a escrita da história. Nuno Ramos é aqui, em Casco, o narrador-artesão.
Assêmico-Panssêmico
"O todo de um texto ou desenho aparece diante de nós como uma 'coisa' assêmica, indecifrável para o intelecto, que não reconhece a linguagem; mas, ao mesmo tempo, pode ser significativo (e, sim, belo) para o ... gosto, percepção ... solicitando algum tipo de empatia."
Encarnado
Um diálogo entre um homem solitário e a cidade grande, entre um sujeito tornado objeto e seus objetos tornados sujeitos, entre o orgânico e o inorgânico, o vivo e o morto, entre uma criança e seus brinquedos, apagando as fronteiras mais do que afirmando-as.
Jardim Atlântico
O mais impressionante é a capacidade de Jura Capela em atualizar para o Cinema o que Jorge Luis Borges afirmou na Literatura. "Desvario laborioso e empobrecedor o de compor extensos livros; o de espraiar em quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que esses livros já existem e oferecer um resumo, um comentário."
Os labirintos de Hélio Oiticica
O maior desafio de trabalhar com o Hélio é, sem dúvida, a entrega. Sua obra tem como premissa a possibilidade de mudança de rota, a possibilidade de mudar de ideia. Não existe objetivo, existe mergulho em um processo no qual ninguém saberá no que vai dar.
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