
Vestidinho Azul
No epicentro do quarto
um vestidinho azul, decote
perpendicular à língua,
de uma eloquência leitosa e impávida,
com teus seios redondos como dois seios redondos,
duas maçãs mordidas;
…
No epicentro do quarto
um vestidinho azul, decote
perpendicular à língua,
de uma eloquência leitosa e impávida,
com teus seios redondos como dois seios redondos,
duas maçãs mordidas;
…
Você quer construir um malabarismo
Oh, a grande obra
Oh, o mesmo quarto há trinta anos
você vai descobrindo aos poucos
os contornos
por favor não faça comparações
…
eu, novamente,
preparo o café da manhã
enquanto você arranca meus cílios.
vou me desfiando
falando pra você não correr assim tão depressa
sobre o meu deslize.
com uma teimosia incubada a 58 graus
me liquidifico , mix desprovido de inquietação.
contrário a obturações feitas a base de argamassa .
este urro da metrópole…
há um muro descascado no caminho para a praia
nele uma linha
simples
uma linha só
liga um tijolo ao outro
sem interrupções
sem internamentos
…
círculos no silêncio
ando em voltas e
observo no galo aquilo
que foi dito em
poema
me desloco na quietude
do espaço
e ando em margens
de águas secas
…
Pablo Cruz Villalba é um poeta mexicano. Nascido na Cidade do México, Epigramas (2014), é seu primeiro livro. Dele foram extraídos os poemas traduzidos abaixo.
“Gregório percorre séculos e gerações de equívocos, do soneto ao poema concreto, do verso sófico à blague. E ao longo do livro um espírito infantil percorre e dá vida, momentaneamente, às ilusões perdidas, aos cânones tão caros aos antepassados.”
Alucinei um lar
três filhos
e a paz que nunca tive
as horas correm seus ponteiros
perfurando minha carne
eu necessito de mais tempo
eu preciso conhecer o amor
quero exigir um dia de chuva
para cada dois de sol
…
Minhas linhas do destino estão em braile
Não vejo nada além do além
Fiquei dançando, já findo o baile
Cigarro apagado, nos olhos brasa
Vê um baralho pra última aposta
De quem será que a morena gosta?