No epicentro do quarto
um vestidinho azul, decote
perpendicular à língua,
de uma eloquência leitosa e impávida,
com teus seios redondos como dois seios redondos,
duas maçãs mordidas;
o estrábico maestro
de uma orquestra pornô,
onde toda vagina que ruge é violino
e o spalla se enforca usando as cordas
do piano (Oh!)
ou do intestino,
pois naquele nosso vestidinho azul puído
cabe tudo menos
o vazio de agora, tudo
cabe tudo
menos o meu corpo
ao menos em memória cabe
tudo
nesses novos shoppings
não havia mais que lenços
para os teus cabelos
ou vento
para minha testa calva e sem ideias:
a casa dividida em duas
mil novas derrotas plenas
de indecentes decotes,
mas será alguma tão
(puro tesão)
azul
ou será tão puído
sem aquele time post coitum
Hilda Hilst (água!) Raduan Nassar
depois de amarfanhar as virilhas
babamos com a boca cheia de trovões
alguns copos de cólera
e cores aos quilos, como se só
de cor se soubesse:
eu te amo menina eu te amo
beijou mas já prevíramos
que a rapsódia seria o prelúdio do allegro
ma non troppo
e que o mesmo céu aqui continua
(sem o teu corpo) nu.
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Vestidinho Azul
novembro, 2014
Antonin Artaud, Caroline Pires Ting
Christophe Barnabé, USINA
Amanda Flou