epígrafe
quem de ferro fere o fogo quem
de quase fura o corpo qual
carícia em tempo firme
qual malícia escapa à
sorte
quem de ferro fere o fogo quem
de quase fura o corpo qual
carícia em tempo firme
qual malícia escapa à
sorte
eram ferozes, feras ferozes, que vinham sentiam o piscar dos olhos, as pálpebras dobrando, arrefecendo. nisso que saíram, aos poucos, casais de muitos tipos, os dentes sobrando pra fora, a boca mordida pra dentro, lábios carnudos. vultos ou sombras, aquilo que se espiava, o mudo o mudo barulho que se ouvia.
meu segredo é não reclamar de nada
é seguir a vida
como a vida é
os outros que me perdoem, as mulas que me
abençoem
I
olho um pouco acima do ombro
e tento localizar o exato do
teu ritmo, a tua ininterrupta
geografia – como se num dia
de agosto a praia compensasse
os temores, amenizasse os
anseios.
manhã
1
tem uma estátua bem no meio. um pombo sempre pousa em sua cabeça e fica horas por ali. será sempre o mesmo pombo?
como poderia enfrentar o mundo conforme a banda pede um sorriso e não sei dizer mais nada completo a palavra e fecho os olhos no intuito de não saber o que escrevo mas ainda assim eu sempre sei o que escrevo no segundo seguinte por exemplo desaparece qualquer vontade qualquer insistência mais aguda um plano ecumênico…
Meditamos sobre a morte e permanecemos atentos
ao uivo da noite. Todos os dias acordamos e,
como se olhássemos o mundo, abrimos a janela
do quarto, a cortina da sala. Do outro lado os
prédios, as ruas, os cabos telefônicos. Do outro
lado as praças, as praias, os carros…
aos nove anos chorei pela primeira vez com um poema. não sei se era bandeira ou bilac se neruda ou cecília. ou os quatro. fui com minha madrinha ao centenário de neruda. o consulado costumava chamar sempre a comunidade chilena pra essas atividades. era no auditório da abl e algumas pessoas deveriam falar. eu tinha nove anos. fomos eu e minha madrinha ao centenário do poeta chileno pablo neruda. o consulado, que naquela época fazia grandes bailes e distribuía grandes prêmios, promovia um evento no auditório do prédio anexo.
quem te dá nome
te fere te fura
nem fome oferece
nem some figura
que mundo ignora
não cora não cura
madeira que seca
num fundo ternura
te cheira e consome
te peca insegura
…