I
olho um pouco acima do ombro
e tento localizar o exato do
teu ritmo, a tua ininterrupta
geografia – como se num dia
de agosto a praia compensasse
os temores, amenizasse os
anseios.
manhã
1
tem uma estátua bem no meio. um pombo sempre pousa em sua cabeça e fica horas por ali. será sempre o mesmo pombo?
como poderia enfrentar o mundo conforme a banda pede um sorriso e não sei dizer mais nada completo a palavra e fecho os olhos no intuito de não saber o que escrevo mas ainda assim eu sempre sei o que escrevo no segundo seguinte por exemplo desaparece qualquer vontade qualquer insistência mais aguda um plano ecumênico…
Meditamos sobre a morte e permanecemos atentos
ao uivo da noite. Todos os dias acordamos e,
como se olhássemos o mundo, abrimos a janela
do quarto, a cortina da sala. Do outro lado os
prédios, as ruas, os cabos telefônicos. Do outro
lado as praças, as praias, os carros…
aos nove anos chorei pela primeira vez com um poema. não sei se era bandeira ou bilac se neruda ou cecília. ou os quatro. fui com minha madrinha ao centenário de neruda. o consulado costumava chamar sempre a comunidade chilena pra essas atividades. era no auditório da abl e algumas pessoas deveriam falar. eu tinha nove anos. fomos eu e minha madrinha ao centenário do poeta chileno pablo neruda. o consulado, que naquela época fazia grandes bailes e distribuía grandes prêmios, promovia um evento no auditório do prédio anexo.
quem te dá nome
te fere te fura
nem fome oferece
nem some figura
que mundo ignora
não cora não cura
madeira que seca
num fundo ternura
te cheira e consome
te peca insegura
…
Andrés Caicedo, jovem prosador, jovem suicida. Colombiano de 1951 até 1977. Sua obra é considerada uma das mais originais da literatura de seu país. Indo de contra-corrente ao realismo mágico do fenômeno García Marquez, Caicedo tratava literariariamente a realidade social, pautando questões da sociedade urbana e seus problemas.
andam dizendo
por aí que alguns
de nós têm as
mãos menos sujas
de sangue.
(…)
Pablo Cruz Villalba é um poeta mexicano. Nascido na Cidade do México, Epigramas (2014), é seu primeiro livro. Dele foram extraídos os poemas traduzidos abaixo.