Viver, e só viver,
O primeiro e último passo, o mesmo.
Viver, então ceder – vontade é coisa que dá e passa.
Passou: um pássaro pousou e morreu.
Viver, e então morrer, como o
pássaro. Desejar?
Uma criança que chora: de fome, de sono, de valentia.
Saber: um amor pode te destruir.
Ouvir, depois chorar – como um bebê – de farsa, de medo, abandono.
Viver, e só viver. À beira do abismo, espiar.
Nascer, então morrer – aceitar a ordem natural das coisas.
Ver a pele do morto, o exato momento da partida.
Guardar seus pertences, jogar todos fora.
Viver, e então nascer – como nascem os bebês, como choram os bebês:
de sede, de manha, de saudade.
Pedir ajuda, como os velhos.
Remexer as mãos na terra, sentir suas raízes,
o movimento das minhocas roçando a dura pele.
Viver depois partir, como os amores.
Cair e permanecer, discriminar a natureza da poeira
quando a luz incide,
imaginar sua origem até espirrar.
Viver, e então morrer,
como um cacto na floresta, deslocado,
um prazer conforme o dito:
vontade é coisa que dá e passa.
Passou.