Filosofemas
Dei a falar com o tempo
O que não disse ao luar da noite
Dei a falar com as horas
Numa língua qualquer
Que só entendem os anjos
Filosofemas de rogação.
Percebi
Atônita:
as palavras em mim
São pássaros
Ávidos
Por paisagens e trajetos
E cantam
Meu desconhecido amanhã.
Outrossim
Amo nua e calada
O tempo que me dilacera a palavra
A noite prata dos vocábulos em desuso
Outrossim
A lua que me deixa atônita
E algum vestígio de saudade
Sem objeto de desejo.
Amo a mulher que sou.
Ilimitável
Para escrever-te uma carta
Revelada no segredo da noite
Inventada no aconchego dos mares
Para além das profundezas
Onde mora o fogo da Terra
Lá no centro gerador de tudo
Útero da primeira palavra
Ventre silencioso da flor
Cântaro corpulento ornado
Em dádiva
Em amor cristalino
Em cada gota de afeto
Manifesto no poema
E afora dele
Quando meus olhos penetram os teus.
Amar é perceber que o horizonte
Não é o limite do mar,
Mas o ilimitável das coisas improváveis.