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Relato ou história documental nº8

janeiro, 2025

Eu era assim, um falante úmido, como um turco nas ruas de Berlim,
e as raposas me chamavam nas florestas sem árvores,
sem acessórios nem gritarias, eram apenas crianças que
brincavam de ninar.

Seus becos se espalhavam equânimes e secos, nas lembranças dos
mapas antigos, descobertos das areias quentes e dos abismos marítimos
– como um dia quiseram perguntar ao amor sobre o amor,
mas a pergunta estava errada.

A senhora repara no cabelo, nas muitas e sucintas vozes que abdicam do
retrato, o espelho. Deveras, aquilo não era nada perto do temporal
que vinha e sua casa alagava, sim, era verdade. Seus olhos de lágrimas
ao som de um bolero, um tango argentino, tossindo e tossindo.

Veneza tropical, meu flúvio de Vênus – Oxum acalmada,
com o ventre livre, esperando e esperando a vida,
um choro que acontece, barulho, espanto.
Não, a cinza é pura, pura fossa encarnada, digamos
aos poucos, aos muitos. Digamos. Uma tentativa
esparsa de retornar ao princípio, escovar e escovar
os cabelos, a janela ao fundo, a tempestade vindo.
Era assim que ela respondia
sobre seu dia.

Vendendo o peixe, recado, ou nada. Isso, isso mesmo, aquilo que
você está pensando. Do que adianta? Perguntaram. Perguntaram?
É isso que dizem. Ao mesmo tempo, uma volta no oceano atlântico,
uma braçada depois da outra, melhor que Odisseu
e sua viagem, melhor que retornar nem mesmo ir, uma braçada depois
da outra, sem parar, o melhor atleta de todos os tempos.

Seguro morreu de velho, caduco, respirando de lado com aparelhos,
bradando mentalmente, sem forças, somente a sombra,
o fantasma, a grande figura delineada sentada na poltrona à direita,
suas pernas cruzadas, sua nitidez, repara, nem mesmo assim as coisas
são de outro jeito, seu nome abstrato: o medo.

Ventura perderam assim, assado. Uma ode à penúria, sem
sombra de dúvida. Veloz ou velozmente satisfazendo os clientes,
sempre que for possível, nunca que for provável ser um novo
assunto, mesmo que seja o mesmo, igual. Já cansei, cansei,
tautologias não provam nada, tautologias são tautologias.
Sem querer me alongar, delongar, aplainar – retiro da palidez
da franja o maremoto, o susto, o corpo quando
late e rebate, tinge de vermelho o poço, a água profunda
e escura, a vontade de mergulhar. Ninguém nem nunca
alguma coisa poderia ser mais do que seu
justo tamanho, sua justa medida. Nem menos.

Calma, criança, tudo é tudo e nada é nada, ao mesmo tempo
e fora também, que tempo não há nenhum,
só mesmo esse que está aqui, e vejo a mesma coisa,
o mesmo fogo, semelhante talvez, quase parecido.

Pura farsa, insensatez, a medida do ritmo, que desenvolve e para,
que encara a forma única, um louco correndo no corredor
para lá e para cá, a dúvida que sobra para
todos a solidão é tão certa, a solidão é tão séria, uma dúvida,
de novo, é sempre isso repetindo repetindo repetindo não aguento mais.

Em Santiago do Chile o tempo é seco e as ruas, largas. Outro dia
vieram me buscar e eu disse que sim, vamos lá. Para onde?
Era outro lugar, não lembro o nome.
Às vezes melhoro o melhorado, entendeu? É um segredo.

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