pesquise na USINA
Generic filters

Transmigração

abril, 2024

I.

Vide o fato da grandeza:
não posso transmigrar
o que me sonha a beleza.

Mas supondo que a posso,
qual seria essa beleza
que tanto tento e endosso?

Penso que saudade da morte
não seria, nem o transmigrar
de uma vida com sua sorte.

Pois a beleza é harmonia
entre os vivos como aporte
de um império e moradia

da saudade de dormir,
eternamente em fantasia
dos sonhos a exprimir

o semblante de um mundo pleno,
absoluto, como um deus,
somente assim eu me havendo.

Pois seria deus um transmigrar,
acordado e em sono sereno
sem da beleza se furtar?

Mas aqui sou um mortal
que me canso a contemplar
uma grandeza sem final:

este império da vigília
onde a beleza se contempla,
tão sublime!, que fatiga.

II.

Que não me puxem os fios d’ouro
pois aqui não quero estar,
quero ir-me, duradouro,

aos caminhos da fraqueza
onde há o ancorar
de um sublime que goteja.

Entre si tão semelhantes
o sublime da beleza
e o sono, extenuantes.

O que antes era o ancorar
de uma saudade, uma agonia,
só posso agora transmigrar

o estado de morte e letargia
que sem rumo se viceja
e no eterno sono silencia,

entranhando-se na beleza
de ter saudades novamente
dos sonhos de grandeza:

onde retomo o que sou e o que era:
um reinado de poeira
que transmigra e que impera

no meu sonho, que cegueira!,
uma saudade da morte
de uma vida passageira.

III.

Já não há templo da beleza,
já não há abrigo dos meus sonhos,
só há isso: uma certeza

que enfim irei deitar-me.
À que deixo, eu proponho:
Beleza, irás sonhar-me!

Boletim da USINA

Quer ficar por dentro de artes e tudo mais que publicamos?

Nosso boletim é gratuito e enviamos apenas uma vez por mês. Se inscreva para receber o próximo!

Boletim da USINA

Quer ficar por dentro de artes e tudo mais que publicamos?

Nosso boletim é gratuito e enviamos apenas uma vez por mês. Se inscreva para receber o próximo!