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História, poema

março, 2024

Recentemente comecei um trabalho de criação de textos que se concentra exatamente nisso: o que é o trabalho de poeta. Foi pensando nesse trabalho que fiquei um tempo prestando atenção em alguns temas – aqueles que mais se repetem e que parecem ser especialmente escolhidos para que o arquétipo do poeta concentre dedicação. O mais imediato desses temas é certamente o do Amor. Mas há outros recorrentes. Também a História é um exemplo de trabalho de poeta. E é sobre a História que quero me concentrar neste texto.

Darei a seguir uma volta muito longa, mas me sinto primeiramente na obrigação de dizer que essa tarefa da elaboração poética é tão distante do agora quanto é a origem da linguagem. Fazer poesia é uma coisa imundamente humana. Estava ali assim que surgimos. Como seria, então, a continuidade desse surgimento?

Cantar a História (recontá-la, recriá-la, retransmiti-la) é um dos recursos da poesia mais exaustivamente trabalhados – é uma de suas principais estratégias. Podemos lembrar inúmeros poemas que constituem narrativas míticas e explicam como foi o passado. Também podemos lembrar inúmeros poemas que contribuem com novos pontos de vista para histórias conhecidas. São alguns exemplos do que tento dizer. Mas até que ponto se pode ver ao se olhar pra trás?

A relação da poesia com o passado se divide em dois rios que correm juntos. Um desce a serra e contém o registro dos eventos; o outro sobe a serra e aplica sua atitude mágica no mundo. O resultado é uma compreensão do passado em que o factual é singrado pela ficção. Assim esse trabalho de poeta refaz uma ideia absolutamente vaga de quais são os ritos históricos que formam nossa cultura, preenchendo-os outra vez de humanidade. A poesia enche a História de carne.

Diante disso, podemos nos perguntar finalmente o que é a História. Nos exercícios que mostro a seguir, apresento textos que tentam recuperar alguns eventos históricos, a fim de torná-los mais próximos, como se fizessem parte da minha História. São parte do que Mário de Andrade, ao se referir sobre a História, uma vez apontou como “teatro do mortos”. Cantar a História é, por isso, uma música para dançar com os fantasmas.

O meu trabalho então girou em torno dessa tira: escrever o texto da História é escoar a vida de quem não está mais aqui também como minha experiência de vida. Aí reside uma lida.

Contudo, se o que vale numa narrativa histórica é justamente o ponto de vista da emissão – afinal é dali que o trabalho de poeta parte –, sinto ser possível reelaborar uma situação em que a História e as Histórias se encontrem, fazendo com que tudo se torne uma coisa só – o texto se tornaria assim o barulho dos dois rios que correm juntos. Essa tentativa rende poemas que não apenas se inspiram em eventos históricos diversos, mas que igualmente tentam repercuti-los através das perspectivas do relato pessoal. Desse modo, posso tão somente calibrar o acontecimento histórico diante do que permite a minha experiência de vida, como também posso tornar o passado frágil a ponto de se perder a divisa entre sua crença e sua desaparição.

Espero que gostem dos textos a seguir. Quem tiver vontade, pode me escrever: thadeucsantos@gmail.com

Invenção da luz

Independência de Angola (Agostinho Neto/Castro Alves)

Revolução Cubana

 

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