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Poemas

junho, 2016

ANTÔNIMO

O antônimo de gaveta
é folha
Porque a gaveta é um corpo
que se guarda para dentro
no escuro do segredo

Mas a folha
Essa é uma palma esticada
a colher o sol

E toda árvore é um conjunto de mãos
A provar da luz pelo tato

Na gaveta o caos velado
Nas folhas a luz dos astros

***

SAUSSURIANA

Há no ar ondas de um som
Que ainda não aprendemos a ouvir
E na lua algumas cores
Que ainda não sabemos ver
Não reconhecemos certas formas das nuvens
E só sabemos o vento em movimento
A espuma das ondas é – para nós –
Apenas a espuma das ondas

Mas a verdade velada aos homens
Por Apolo
Por Khonsu
Por Niami
Por Njord
Por Iemanjá
É um idioma íntimo que se faz com o corpo

As formigas em fila indiana o conhecem
As jubartes o cantam em um dialeto próprio
As pipas dançam ao som dele

Todas em uníssono
Na execução sintática
Da inconsciência consciente

***

ESTUDO EXPOSITIVO DO EU

Sou tudo aquilo que poderia ter sido
Mas não foi.
Constitui-me uma massa escorregadia aos dedos
Tal a das sombras quando o Sol ilumina o Possível.

Sou tudo aquilo que poderia ter sido,
Mas não fui.
Sou talvez a sombra de mim mesmo
E o sol a Possibilidade do que poderia ser.

O que não fui, por não ter sido, me constitui
E aumentarreduz o não-ter- sido em meu ser
Porque ser é rasgar o tecido por onde a possibilidade se é.
Mas o sol cega e o tecido é espesso em excesso para se encarar
Falta-me a coragem e tenho a palidez inerte das sombras.

Mas, se me fosse, não me seria

***

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