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Mãepai

março, 2016

Pai, te devolvo meu olhos
pois cansaram de juntar tanta luz
derramada sem fundamento sobre terra fugaz.

Mãe, te entrego meus cabelos
que o vento liberou daquele sulco
escuro em meu pensamento.

Mãepai,
língua que escava duas sílabas contrárias,
cante-­me até um mar sem distâncias;

não deixe que de noite esqueça as estrelas
e fique conversando com as rochas,
como quem se apaga ao perder seu nome.

Recorda: um pássaro enredado
nas ramas do sentido
não consegue voar.

 


 

A luz de teus olhos voltou a nascer nas fendas do
monte. Te vejo, ao longe, recostado entre cerejeiras. E
ainda que não tenha baixado em mim a primavera, já
quero provar as bagas que brotaram de tua raiz amarga.

Uma mulher de rubores tristes me ensinou a estranha
hera que trepa ao redor do silêncio. Aprendi a me sentar e
esquecer. Mas já dividimos faz tempo demais a casa da
vertigem e a distância.

Quando voltar, nos será devolvido o humilde caminho.

Os pássaros do rancor terão poucas palavras para voar.

 

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