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Primeiro o Som

agosto, 2015

Primeiro o Som
Daí veio e eu vi
o Trio na varanda
e procurei o céu

Vi Três seres nas cores branco,
verde e vermelho
E o cigarro aceso. Daí pensei
E entendi aquilo de encontrar um espaço,
de se sentir em casa – reunido

Olhei as Três: o Trio
E o céu já não fazia som nenhum

Mas era como se as vozes, que agora
eu ouvia, não soubessem do que
no céu (atrás delas) estava,
tão maior, acontecendo

Só ouviam suas próprias vozes
enquanto fumavam seus próprios cigarros

Ali, naquela posição
de onde meus olhos vinham,
era nítido o efeito
e o
des
conhe
cimento
daquela situação

Daquele Ser.

Apagaram a luz atrás
– que compunha com tanta forma aquela planta que contudo na luz branca parecia papel

Não seria: esse momento de novo
Aquelas cores – sonoras – só poderiam
existir numa câmera, que sem intenção
nenhuma estaria ali para eterniza-las
(mas eu estava)
Sem intenção nenhuma: a câmera está ali
fazendo o seu serviço esperando captar
aquilo de mais comum possível (que no fundo,
mesmo que se negue e não
se fale, sabe o quão é – e sempre
soube – insignificante, mas vai
até o final se enganando
que não – é estupendo),
mas o Ser extrapola,
o humano tem aspirações
escondidas – anseios – que se jogam
e buscam e por isso susto
e surpresa

Por essa ele não esperava,
mas na verdade, sem saber,
era tudo o que ele estava esperando
E sem nem suspeitar era
por isso que ele estava
ali: filmando

Era por isso que ele vivia.

Seu ser busca
mesmo que ele
esteja se enganando
E ao contrário do Trio,
Ele não só estava de frente,
mas também com um terceiro olho (sobreessalente)

A da ponta, na poltrona, nesse instante, olhava pro copo.

Mas não era culpa delas
que cruzassem as pernas
e não acreditassem naquilo
que Outro poderia acreditar

E só descobriram a parede
(lateral branca desgastada)
imensa do prédio vizinho
pois fizeram uma janela
virada para essa tevê

Me recolhi de lado e me encolhi
na cama chamando desejos
e lembranças de vontades

Atravessei o núcleo ao aconchego.

Respirado de toda essa visão,
quis de novo ouvir o Som
e ver o céu marcado,
caindo como pouso,
para pensar de novo e dessa vez perguntar
se hoje haveria outro rumo ou se apenas era aquilo mesmo e na minha cama eu só poderia
[flutuar e caminhar nos sonhos, mas nunca virar esquinas

Meus amigos não estavam longe
e sabia que pensavam nesse instante
algo de mesmo que eu

Mas o céu responde:
Três pontos
Olhos atentos
Você é sempre
e a noite deita ou caminha
e por enquanto (ainda)
não pode voar.

[1º manifesto]

 

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