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Poema

fevereiro, 2015

diríamos: pedra sobre
pedra, um gesto – animal
feroz que dissimula as
mordaças. eu pousaria
minha testa sobre a
tua. diríamos: névoa
embaraçosa, ferro
sobre fogo, uma tosse
durante o dia, um
embalo prosaico à tarde.

diríamos: noite que
te quero noite,
silêncio que não
seja nada além de
silêncio, palavra.

diríamos: pedra sobre
pedra – fosso ou lume,
uma instância em que
só haja ruído e não
passe nada mais. um
silvo estranho de parte
alguma (a tua ou a minha
parte). pedra sobre pedra,
inequívoco confete armado –
sorte minha ou tua saber
pouco das praças, das
quadras, dos tempos. um
calendário fixo pendurado
na sala, um escaninho
amarrado às vestes e o
ranger do piso duma
porta à outra.

diríamos: (eu você nós
dois) pedra sobre pedra,
que não seja túmulo ou
desaparição, o estalado
quente e agudo do parque
ao lado. pedra sobre
pedra,estudo sobre a água
e algo além, terreno firme e
desesperado, assunto
breve e repetido.

seríamos: pedra sobre pedra,
conta assídua de perspectivas
contrárias, de planaltos
subterrâneos, de manchetes
consagradas. pedra sobre
pedra, ou quase isso, um
eco disforme e sonâmbulo
(que se esquece de
pôr as meias, de amarrar
os cadarços). nós, os outros,
pedra sobre pedra, nome
gravado a vento, traço disposto
à guerra:

silêncio que não
é nada além de
silêncio, palavra.

……….

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