
onde as carnes se secam
onde as carnes se secam
em meio às pocinhas da terra
encharcada a gotas de sal
a serem pisadas
vez ou outra por quem tem fome
há grama
que cresce
há flores ainda por cima
…
onde as carnes se secam
em meio às pocinhas da terra
encharcada a gotas de sal
a serem pisadas
vez ou outra por quem tem fome
há grama
que cresce
há flores ainda por cima
…
manhã
1
tem uma estátua bem no meio. um pombo sempre pousa em sua cabeça e fica horas por ali. será sempre o mesmo pombo?
quanto do tempo
daqui até o teu sexo
abrir jardins e fazer caminho de abelha vindo do mar
abrir um livro e penar sobre o teu pássaro
e não morrer ali
…
uma coluna tão reta
às 11 da manhã
numa praia deserta
porque é dia de semana
é um convite a matar
todas as aulas
…
Ingestão de dietilamida e ninguém não sorri debaixo do sol, dançando amargo-salivado, agarrado nas bandas do nbome (que todo mundo resolveu falar e se fazer de preocupado agora, como se amargar nunca fosse utilizado como parâmetro de qualidade; e eu também, só sommelier nóia e charlatão).
Meditamos sobre a morte e permanecemos atentos
ao uivo da noite. Todos os dias acordamos e,
como se olhássemos o mundo, abrimos a janela
do quarto, a cortina da sala. Do outro lado os
prédios, as ruas, os cabos telefônicos. Do outro
lado as praças, as praias, os carros…
Quando o tsunami chegou como sempre sem ser anunciado
eu levava na mochila o ‘Óleo das horas dormidas’ do Leo, livro que aliás o Leo tinha me mostrado logo após uma onda
estranha que também havia levado alguns de seus pertences
…
Mais cotidiano que o cotidiano (2013, Azougue) sugere muitas perguntas. Ao imergir no cotidiano (subst. m.) para extrair dele, como em uma mina, o que seria mais cotidiano (adj.) que o tal, Alberto Pucheu assume a difícil tarefa de imergir na água grossa que nos cerca todos os dias.
meu amigo, estais enlutado,
com alguém que acabou de perder o esteio
mas que sabe que a vida continua.
e continua, e é preciso ironizá-la.
choras porque sabes que o caminho não é tão curto,
que encontrarás nas árvores mais altas a flor nascendo
e que o fruto, se não comido, apodrecerá.