
Três Poemas
você sabe quantos dedos tem uma mão?
geralmente as pessoas
nós pensamos que sabemos quantos dedos tem
a mão. eles nascem crescem reproduzem…
você sabe quantos dedos tem uma mão?
geralmente as pessoas
nós pensamos que sabemos quantos dedos tem
a mão. eles nascem crescem reproduzem…
Até as minhas cascas
alérgicas
os travesseiros
de pedras
cada esmalte
velho na caixa
cada verso
abandonado
junto a poeira
acumulada
…
ou tua forma
inevitável um ponto
cego agudo grave
um pequeno caminho
da ponta do teu pé
até teu cotovelo
um horizonte visto
por cima um oceano
…
Minhas linhas do destino estão em braile
Não vejo nada além do além
Fiquei dançando, já findo o baile
Cigarro apagado, nos olhos brasa
Vê um baralho pra última aposta
De quem será que a morena gosta?
Ele & ela
(cancerigenamente)
Deixam a mão amor
tecendo – e se os sons
nunca parassem? –
Sem querer Rilkocheteia
Seu cabelo juntando meus pés
ao chão feito um bonde
…
Em Noiva, Rezende investe no hibridismo do texto, e parece apontar à noção antiga de que a linguagem não é nem poesia nem prosa, mas seu intermédio. Verso, prosa, prosódia, especulações e diários de viagem são dispostos ao modo de pequenas esculturas textuais.
poeta, você de boca
torta mas nem tão torta assim
de pele lisa mas nem tão lisa
assim de pelo escuro mas
nem tão escuro assim
você que não pode sentir
o calor das cadenas – quem
te prefere? (…)
Sergio Cohn é poeta e sócio-diretor da Azougue Editorial, publicou os livros Lábio dos afogados (1999), Horizonte de eventos (2002), O sonhador insone (2006) e Futebol com Animais (2013), escrito junto com seu filho. É editor de várias revistas de cultura, entre elas a Azougue, a Nau, e o Atual – O último jornal da Terra.
estou
numa tarde
muito quente
em que pessoas
tiram a pele de palavras
e expõem seus ossos
como coisas cruas
contorcendo-as
em carne viva
enquanto me
cumprimentam
(…)
um: rua que se permite ou experiência que transcende a forma clara, o peso liso, os edifícios ascéticos e regrados. motivos: a urbe decreta caos, as dissidências são as ruas, as rugas que, em deferência, proclamam as veredas desconhecidas.