Conversa
elisa tomou o choque
paulo se enforcou no prego
eu permaneci na minha
nem tudo se resolve
não quero te dar a dica
é claro que me comove
estilhaçar-se todos os dias
elisa tomou o choque
paulo se enforcou no prego
eu permaneci na minha
nem tudo se resolve
não quero te dar a dica
é claro que me comove
estilhaçar-se todos os dias
Há na violeta um áspero pendor
de pedra. Mas o mármore da cor não
se arremessa como uma pedra;
é uma dureza de sonho.
Erguido
o último suspiro
aos anjos da colheita
que por aqui passam
quando querem catar
acerolas
encontrei leo num momento difícil do dificílimo ano de 2018. na semana anterior victor heringer tinha feito a passagem e um ou dois dias depois marielle seria assassinada. cheguei na livraria da travessa de botafogo mais pro final da tarde quase noite. conversamos ali dentro, numa espécie de jardim de inverno muito utilizado pelos fumantes, eu acho. leo joga nas onze e já publicou livros de poesia, conto e romance. além disso, é o cantor da Dibuk Motel e trabalha há anos como livreiro
andam dizendo
por aí que alguns
de nós têm as
mãos menos sujas
de sangue.
(…)
Vi hoje o julgamento da inocente, Mestre, e sua condenação à morte. Vislumbrei a beleza mais delicada e tênue e assisti à violência humana que não suporta o belo, que destrói a inocência aos risos. Tens resposta para isso, tu que sempre me voltas esse olhar complacente de quem compreende a infantilidade de meus julgamentos como uma doce memória da sua própria infância?
Você quer construir um malabarismo
Oh, a grande obra
Oh, o mesmo quarto há trinta anos
você vai descobrindo aos poucos
os contornos
por favor não faça comparações
…
círculos no silêncio
ando em voltas e
observo no galo aquilo
que foi dito em
poema
me desloco na quietude
do espaço
e ando em margens
de águas secas
…