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Poemas

outubro, 2015

trapaça

quantas coisas acontecem numa tarde mas como
cortam a luz da casa
pena de pássaro oculto no meio da sala sem luz na casa
temores
tecer uma lastra de palavras e nada
teus poemas para levar à morte por abrir
tudo o que não posso
a casa aos vagabundos essa ausência
de clareza que nos arrasta
uma tarde não presta
tento voltar ao plano onde
estava a minha cabeça quando pensei que poderia
arrumar o quarto e a cabeça
quando na caixa a tua voz assoma
quando um pássaro ocultamente a sala me atravessa
e deixa um pouco de si
sorrateiro
lembrando que com exceção de mim o mundo subsiste em
trapaça

ritornello

te dedico alguns poemas digo
que assim me ame mas
nem por isso integro a sua
intrínseca filosofia
ofegante você não lê e temos
entre nós toda a sala eu também
sei o silêncio e o medo de começar tudo
outra vez

coisa

percebe:
parece um parto
o dia — estamos perto
mas nem tanto — parece um parto
anômalo — a paisagem
difusa — ela entra
voltando — parece um parto
dentro de mim. percebe
o dia perde
uma substância
quando partimos
e a cabeça
(tanta ideia)
conjuga apenas
uma imagem — quando despedimos
as coisas brotam
atravessadas
dentro de mim:

criação
investida
por uma adaga

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