I.
estranhas as tilápias
no teu rio,
matutas.
este tambaqui não é daqui,
bem sabes.
II.
ao abrir o rio
com as têmporas
sentes areias,
fluxo exógeno
de mexilhões-zebra.
III.
queres mergulhar na noite,
beber pirás e estrelas.
navegas no céu noturno,
cheio de fonemas.
IV.
também tu és
peixe-lanterna
criando luz nas têmporas,
para remar
na exsurgência
da escrita.
V.
conta a história
de teu bagre-pintado
aos pequenos
do teu território.
imortaliza o peixe
através da tua
história-memória
VI.
choram os astros
de memórias do piau.
e em teu olho d’água
nascem
palavras-piabas.
VII.
o ferro nos adjetivos
o cobre nos predicados
o alumínio nos sujeitos
são cacofonia nas várzeas
assoreadas-atingidas
da sua foz-voz.
VIII.
tu e o surubim
inauguram
com bexigas natatórias,
a mesma fonética.
reconquista a linguagem,
restaura a margem.
IX.
a água
te mostrará o caminho,
todo caminho é linguagem.
dela não sairás vivo,
sairás verbo.