O ar quente de dezembro carrega um zumbido constante. No quintal de uma casa em Brumadinho/MG, cigarras e sapos disputam o primeiro plano da escuta. A pandemia mantém as ruas esvaziadas, mas aqui o som é denso, vivo, inevitável.
Trago o violoncelo ao colo. O arco encontra a corda sem ensaio, sem partitura, sem tempo marcado. A proposta é simples: ouvir e responder. O mato, o vento, o coro de insetos — todos são parceiros de improviso. Cada ataque, cada pausa, é atravessado pelo canto que não me pertence.
Assim nasce Impromptu, uma série de encontros musicais com o instante. O nome, homenagem a um amigo que morou na França e sua paciência com minha pronúncia da palavra na língua, vem de uma forma musical livre que atravessa séculos: Schubert, Chopin, Donald Martino, até o Queen em Wembley. Aqui, contudo, o termo não é citação erudita, mas método: estar presente e tocar o que o momento oferece.
A gravação é despojada. Cadeira, celular e um corpo tocando no quintal. O registro é também memória de um tempo em que criar era forma de permanecer em diálogo com o mundo, mesmo em isolamento.
Ficha técnica
Ano: 2020
Local: Casa Branca, Brumadinho/MG
Instrumento: violoncelo em diálogo com as cigarras, sapos e ambiente
Captação: áudio e vídeo por celular, em ambiente natural
Duração: 6’39”