para João Cabral de Melo Neto
Erguido em eras, novas
fases, aeronaves à sorte:
um dia a menos
ao menos se diria,
quem sabe o toque,
a agonia, quem sabe
o corte onde cabe a vida,
ida – ir e não ir como
uma ferida.
De perto tudo é,
e tão que nem parece
que nada tece o real,
realmente – somente a morte?
Partida. Eros navegando
no mar dos suicidas:
coléricos feixes, genéricos
dentes, rindo a risada
maldita.
Frutas, tubérculos, peixes –
abstratas grutas, indigestas
sementes paridas de
gestos no
século das sintéticas
iras. A lira útil, a imensa
barriga, na sombra os
escombros e os restos:
a lombriga.
Cobrir o coberto,
fútil dilema da lida,
aquilo que à quilo
se vende, peso por peso –
medida. Teorema deserto,
sem preço e saída:
além do vazio
que pende e, pendendo,
se esquiva.
Os cinco dedos das mãos,
os nove círculos,
a cisma: até que se prove o veneno
e sobreviva –
até que se esqueça o mistério
que a água cultiva (o
segredo da marca que a lava batiza):
um cego no breu da palavra,
lavra amiga.