Há ou havia um crime
Que já não se diz, talvez lírico
Demais – flor ou projétil:
Patas no peito – o som
Do tambor: roleta russa
Em têmporas
À beira
Sabe-se lá do quê, no limite
De um choque
Anafilático, um blecaute
Psicótico um coma
Alcoólico num puteiro de Copacabana
(Em que o atendente finge não dar
O rabo e ainda rouba a senha
Do cartão de crédito),
Havia ou há um criminoso sempre
nascendo, as mãos nos bolsos
Da frente de algum rapaz imberbe
E teso apesar do pó
De má qualidade,
Com sangue debaixo das unhas
Uma flor obscura na garganta
Um nó à altura do intestino
Grosso, à beira
Do mar às 4 da manhã
Ou às 2 da tarde
Quando já não é mais possível
Esconder as olheiras
De quem rala apenas
Entre coisas cruciais ao bom funcionamento
do mundo, há ou não há
um crime nos seus dentes, há
ou não há sangue saliva manchas
de macho nas suas mãos
cortadas, você que se entregou
ao crime, você que matou o banqueiro
com os lábios envenenados de paixão
sincera, que deslocou o púbis com um golpe
de karatê na porta de um pub,
que agora mais estranho troncho esquizoide que nunca
beija de língua a cadelinha Edith
canta ao peru aos patos
uma ópera alucinada
sob o sol cianótico da chácara de Maricá,
há ou haverá sempre alguém
querendo enterrar-te
vivo num charco mais raso que um
perdigoto, mas não – teu nome
sabe ser tão
tão tão
que não cabe dizer um Z, você,
o intragável gentil, um selvagem
de meias, o único hippie
com raízes, xamã e grego
desagregado – um zarvoleta
puto ou pacífico, você,
com suas camisas quadriculadas de flanela
e jeans de florista homicida
ajoelhando-se sobre as rosas
do povo (copos-de-leite)
que seus joelhos ralados são os de quem dá
de cabo a rabo
alguma coisa para deixar na terra,
uma gota, um fluido: o peso
que baste
para fazer nascer, na violenta cerração
em que nos encontramos,
algum delito,
algum amor.
Piratininga-Niterói, 16.08.2016