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Assêmico-Panssêmico

novembro, 2015

Assêmico-Panssêmico
Por Marco Giovenale

Jim Leftwich está definitivamente certo ao dizer que não há realmente uma coisa ou sinal perfeitamente “assêmico”, uma vez que tudo transmite algum significado, tudo pode encontrar seu caminho para – pelo menos – um interior “emocional” (garatuja de) significado.

Ele fala de “panssemia” (a partir do prefixo grego “pan” = todo), e ao fazê-lo ele apenas sugere que tudo emite/expressa (ou é um eco de) algum sinal semanticamente rico, sempre provido com uma semi-sombra de significado; por isso tudo faz sentido, e um monte de caminhos significativos pode sempre ser conectado às flechas invisíveis subindo de qualquer um dos traços escritos que imaginamos e concebemos e fazemos ou encontramos.

Dito isso, parece-me que uma área assêmica ‘apropriada’ (?) pode ser vista no lugar onde a mente liga palidamente nossas expectativas a uma mensagem escrita linguisticamente conhecida e o conteúdo para uma forma realmente desconhecida de glifo.

O todo de um texto ou desenho aparece diante de nós como uma ‘coisa’ assêmica, indecifrável para o intelecto, que não reconhece a linguagem; mas, ao mesmo tempo, pode ser significativo (e, sim, belo) para o … gosto, percepção … solicitando algum tipo de empatia.

Eu penso não só nas paredes escritas de nossas cidades, nem na prática da escrita assêmica em si, solitariamente. Eu gostaria de me referir também às apenas visíveis… linhas entre as coisas. As bordas e limites de blocos e ruas emaranhadas como são vistos pelo olho de um satélite. Ou ao código escrito da chuva numa poça de cimento úmido. Ou traços casuais de animais (e homens) em cavernas. Etc.

Assim que – ao olhar para eles – pensando em sobrepor as formas de alguma linguagem escrita possível, nós abruptamente descobrimos qualquer coisa que pode realmente ser código, mensagem, e que ao mesmo tempo não é. Nós vivemos na incerteza. Eles desafiam qualquer tentativa prática de entender, decifrar. Mas, nesse movimento, fazem algum outro significado opaco surgir. Uma espécie de nuvem de possibilidades. Uma névoa de “fazer sentido” que paira sobre tudo e em torno da camada específica de escrita que estamos enfrentando.

collab_leftwich-giovenale1
Leftwich/Giovenale, collab piece, 2007.

Por que continuamos usando o termo assêmico, mesmo sabendo que tal coisa não existe:
Por Jim Leftwich

eu acho que toda experiência humana tem conteúdo semântico.
é por isso que eu acho que a escrita assêmica é um tipo de escrita aspiracional.
aspiramos a criar uma escrita assêmica, uma escrita sem conteúdo semântico.
e nós falhamos.
então nós tentamos de novo, e falhamos de novo.
se nós nos preocupamos genuinamente com a prática, nós repetimos este processo outra e outra vez, por um longo tempo.
finalmente, perdemos toda a esperança de atingir o nosso objetivo.
perdemos a fé no objetivo.
nós já não acreditamos em nossa capacidade de criar uma escrita assêmica.
então nos decidimos por uma meta alternativa.
decidimos que o processo nunca foi sobre o produto, o objeto, o poema. sempre foi apenas sobre o processo.
sempre foi sobre o processo de treinamento da mente, talvez de aquietação da mente (“quieting the mind”, para usar uma frase de John Cage).
é uma escrita contra si mesmo, e mais do que isso, uma escrita contra o self.
que é como ela pode ser comparada a uma disciplina espiritual, como o zazen ou o hesicasmo, ou o Otiot zerufe.
é por isso que as normas de qualidade estética são piores do que irrelevante para o processo.
e também é por isso que uma hierarquia de praticantes é pior do que irrelevante nesse contexto.


Marco Giovenale, nascido em 1969, vive e trabalha em Roma. Sua atividade inclui prosas, poemas, fotografia, escrita assêmica (“drawritings” e/ou “sibilas assêmicas”), pinturas abstratas, desenhos, peças conceituais, instalações (on-line também) e WebWorks (veja o blog-opus (http://differx.blogspot.com). Editor de http://gammm.org. Seu livro mais recente de poemas (lineares) em italiano é Shelter Shelter (Donzelli, 2010). Poemas e peças críticas foram publicadas em Aufgabe, N7, 2008 (Litmus Press.) A prosa CDK foi publicada em 2009 como um livreto e e-livro (livre para baixar) por Tir aux pigeons. Em 2010 ele criou o site du-champ.blogspot.com, e a idéia e prática chamada installance.

Jim Leftwich é um poeta e artista postal que vive em Roanoke, Virginia. Ele é o autor de Dirt, Doubt, Myesis, Sample Example, The Textasifsuch, Death Text, Pulsing Swarms & Squiggly Diagonals, Shrimp Teeth, Trashpo e Six Months Aint No Sentence. Trabalhos colaborativos incluem Sound Dirt, com John M. Bennett, Acts, com John Crouse, How to Dust A Bunny, com Jukka-Pekka Kervinen, iTopia, com Scott MacLeod, book of Numbers, com Marton Koppány, e Shadowed Truth, com Andrew Topel. Ele foi o editor das revistas impressas Juxta e XTANT de 1994 a 2005. Desde 2005 ele editou/compilou o blog zine Textimagepoem. Desde 2008 esteve envolvido na organização de arte postal, poesia sonora, poesia visual e eventos de noise em Roanoke.

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