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prosa

Casa verde

Onde eu cresci com meu irmão em uma casa ao norte do estado: onde as árvores fazem muita sombra e caem por cima das casas – deixando tudo bem úmido lá dentro – e pelo extenso gramado que se deitava por todo o terreno a gente sempre corria e pulava

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à procura de entrelinha

Quando isso a que chamo de desejo de escrita anunciava-se em mim, antigamente, é o que vou começar a tentar dizer. Destino infalível de mim, quase mulher que inspira ar de delírio enquanto minhas narinas encontram-se irritadas com tanto tabaco que ando a consumir nesses dias descontentes de calor e pouca fruição.

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o segredo da voz

o primeiro canto que eu me lembro de ter parado para escutar foi o da cigarra. toco de gente pelada, à beira do poção onde nós meninos virávamos peixes sedentos em meio à algazarra. eu devia ter uns três anos ainda, mas tenho bem presente em meu corpo aquele som riscando os ouvidos: sim, com meu corpo todo que me lembro daquele momento, pois o zunido me atravessava por inteiro, e assim tive minha primeira vibração, minha ressonância inicial. a partir de então, percebi que alguns sons me punham como que em transe.

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Os Santinhos da João Afonso

Coloco os pés na luz e os olhos no chão da rua. Assim bem cedo, ou mais tarde, às vezes apressada, ando olhando para baixo, para frente, e para os lados. Antes que acabe essa minha pequena rua de paralelepípedo percebo que o chão está cheio de pequeninos pedaços de papel. Alguns bem pisoteados outros intocados. São santinhos, imagens estáticas me olham e forram não só o chão, como o vidro dos carros e os fundos das caixas de correspondência. Nunca tem dois santinhos diferentes no mesmo dia, quando é dia de nossa senhora, é dia de nossa senhora. Não é aconselhável confundir os santos

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a quarta estação

eram ferozes, feras ferozes, que vinham sentiam o piscar dos olhos, as pálpebras dobrando, arrefecendo. nisso que saíram, aos poucos, casais de muitos tipos, os dentes sobrando pra fora, a boca mordida pra dentro, lábios carnudos. vultos ou sombras, aquilo que se espiava, o mudo o mudo barulho que se ouvia.

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Sonho de uma flauta

– Toma – disse meu pai, e entregou-me uma pequena flauta de osso – leva isso e não esqueças teu velho pai, quando alegrares com tua música as pessoas nas terras distantes. Já é tempo de agora veres o mundo e aprenderes alguma coisa. Mandei fazer a flauta para ti, porque não sabes nenhum outro ofício e só gostas de cantar.

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Aconteceu ontem mesmo

uns uns, os que vieram, e trouxeram roupa comida agasalho. e diziam e comemoravam e andavam às custas dos outros, os que vieram, e depois disseram que não vinham mais. não se soube mais disso ou daquilo disso ou daquilo, foi-se, como se foram os mancos, os outros e os que vieram depois. de início todos quiseram participar, chegaram e trouxeram bebida comida sentaram à mesa.

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Excertos

Autora chilena nascida em 1910, Maria Luisa Bombal é uma das poucas autoras latino-americana a conseguir prestigio fora do círculo da sua língua nativa. Grande amiga de Jorge Luis Borges, seus romances, sempre curtos, evocam uma atmosfera onírica e fantástica.

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Avenida Niévski

Em “Avenida Niévski”, publicado em 1835, Gógol incorpora a modernidade na literatura, acompanha a passagem do dia, fragmenta sua descrição, e termina por seguir dois flâneurs em seus devaneios pela Niévski. Nota-se já nos primeiros parágrafos da obra uma antecipação de inúmeras experiências estéticas do séc XX.

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O que nos encosta na alma

Não se trata de uma crítica, isso é apenas uma espécie de carinho. Um carinho torto, eu sei, mas talvez também seja uma forma de fazer você despertar desse coma. Uma maneira de fazer com que você perceba que não há nada mais triste que vê-la chorar.

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