Mais cotidiano que o cotidiano (2013, Azougue) sugere muitas perguntas. Ao imergir no cotidiano (subst. m.) para extrair dele, como em uma mina, o que seria mais cotidiano (adj.) que o tal, Alberto Pucheu assume a difícil tarefa de imergir na água grossa que nos cerca todos os dias.
meu amigo, estais enlutado,
com alguém que acabou de perder o esteio
mas que sabe que a vida continua.
e continua, e é preciso ironizá-la.
choras porque sabes que o caminho não é tão curto,
que encontrarás nas árvores mais altas a flor nascendo
e que o fruto, se não comido, apodrecerá.
No epicentro do quarto
um vestidinho azul, decote
perpendicular à língua,
de uma eloquência leitosa e impávida,
com teus seios redondos como dois seios redondos,
duas maçãs mordidas;
…
eu, novamente,
preparo o café da manhã
enquanto você arranca meus cílios.
vou me desfiando
falando pra você não correr assim tão depressa
sobre o meu deslize.
Em Noiva, Rezende investe no hibridismo do texto, e parece apontar à noção antiga de que a linguagem não é nem poesia nem prosa, mas seu intermédio. Verso, prosa, prosódia, especulações e diários de viagem são dispostos ao modo de pequenas esculturas textuais.
o século XXI
de epifanias plásticas, soluções rápidas e ligações gratuitas
o século vi-te em um
rentável, sustentável, (politicamente insuportável), insolúvel (…)