Revistas de Invenção
Da antropofagia à vanguarda russa, atravessando as contraculturas no Brasil, França e Estados Unidos, estas revistas publicadas originalmente em tiragens reduzidas acabaram ainda mais raras com o tempo. Agora, estão todas disponíveis digitalmente.
A importância histórica de reunir nomes consagrados, como Oswald de Andrade, Maiakovski, Stepanova, Carlos Drummond de Andrade, Eisenstein, Lygia Clark, Robert Crumb, Dziga Vertov, Helio Oiticica, Augusto e Haroldo de Campos, dentre vários outros, torna compreensível sua preservação em coleções e museus. No entanto, o fundamental é continuar viva sua força artística e experimental.
Pra quem quiser conhecer mais, algumas referências são o inventário das revistas brasileiras feito por Sergio Cohn em Revistas de Invenção (Azougue, 2011), o issuu de Amir Brito onde estão digitalizadas uma centena de publicações, o wiki da Monoskop, atualizado com revistas de vanguarda do mundo inteiro, e a exposição Clip/Stamp/Fold, sobre revistas das décadas de 1960 e 1970.
Whole Earth Catalog
O mais importante documento da contracultura norteamericana, publicado entre 1968 e 1974. O Catálogo funcionou como um fórum para milhares de comunidades autônomas que surgiam pelos Estados Unidos. Ele articulou conhecimentos tradicionais indígenas, religiões e práticas orientais, substâncias alucinógenas junto com agricultura orgânica, teorias da cibernética e computadores. O WEC apostou nas tecnologias enquanto ferramentas pessoais potencialmente libertárias para novos modos de existência. Seu impacto se deu tanto movimento ambientalista, ao subverter as tecnologias da Guerra Fria e divulgar pela primeira vez na história uma fotografia da Terra; quanto no desenvolvimento de computadores pessoais e da Internet.
Le Carré Bleu
Em Paris, alguns meses após maio de 68, o coletivo editorial formado por uma rede de arquitetos europeus publicou a terceira edição de Le Carré Bleu, em forma de sanfona e inteiramente dedicada aos protestos que aconteceram na cidade. Na capa da publicação eles afirmam que “O movimento de contestação nos fez entender que devemos assumir uma posição mais abertamente do que fizemos no passado. Uma crítica arquitetônica permanente deve encontrar em nossa revista uma tribuna aberta para as relações fundamentais entre as artes, ciências do meio ambiente e os problemas políticos, sociais e econômicos”.
Nas páginas de Le Carré Bleu estão o calendário das mobilizações, algumas das reivindicações do movimento, proposições dos estudantes para uma revolução cultural e o impacto disso na arquitetura. A revista também acompanhou a partir da Escola Nacional de Belas Artes, uma das universidades ocupadas, as produções gráficas dos ateliês populares, onde foram criados cartazes com imagens e palavras de ordem que proliferaram nos muros de Paris.
Invenção
Revista de arte de vanguarda, publicada em cinco números, entre 1962 e 1967, Invenção reuniu o movimento concretista e outros artistas “em pleno pulo da onça, intentando uma poesia formal e conteudisticamente revolucionária”.
“No Brasil, o trabalho intelectual responsável, em situação, revolucionário, só pode colocar-se sob o signo da produção, indústria pesada, de base.
O artista é um produtor de ideias sensiveis, quando não acionantes, e a luta contra a marginalidade a que o condenam não devem levá-lo a fazer o jogo de uma sociedade de estrutura utilitarista, como a nossa, por mais que o tente o bafejo de um sucesso mascarado de auto-sobrevivência.”
Klaxon
A primeira e principal revista do modernismo brasileiro, lançada mensalmente logo após a Semana de Arte Moderna, contando com Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Suas primeiras páginas seguem:
KLAXON não se preocupará de ser novo, mas de ser atual. Essa é a grande lei da novidade.
KLAXON sabe que a humanidade existe. Por isso é internacionalista.
KLAXON não é exclusivista.
Apesar disso jamais publicará inéditos maus de bons escritores já mortos.
KLAXON não é futurista.
KLAXON é klaxista.
KLAXON cogita principalmente de arte. Mas quer representar a época de 1920 em diante.
Por isso é polimorfo, onipresente, inquieto, cômico, irritante, contraditório, invejado, insultado, feliz.
Revista de Antropofagia
Publicada originalmente em duas “dentições”, primeiro em forma de revista, depois como uma página no jornal “Diário de São Paulo”, a Revista de Antropofagia foi reunida em fac-símile na década de 1970. Concordamos com o que afirma Augusto de Campos na introdução, o movimento antropofágico foi o que saiu de mais revolucionário do Modernismo:
a única filosofia original brasileira e, sob alguns aspectos, o mais radical dos movimentos artísticos que produzimos (…) Tabu até ontem, hoje totem. No necessário banquete totêmico não devemos, porém, comemorar, mas comer a revista. Como ele queria. SOMOS ANTROPÓFAGOS.
Form
A revista FORM em suas dez edições, publicadas entre 1966 e 1968, divulgou na Inglaterra as vanguardas da década de 1920, traduzindo e apresentando revistas como LEF, De Stijl e Mécano. Ela também introduziu ao público inglês as teorias estruturalistas, no debate sobre as “relações entre forma e estrutura na obra de arte” e as experiências contemporâneas de poesia concreta e visual. Na edição final, com capa de Rodchenko, são traduzidos diversos textos da revista soviética LEF.
LEF
Os partidos revolucionários travam guerra contra a realidade.
A arte se insurge para travar guerra contra o bom gosto.Já em 25 de Outubro nós começamos a trabalhar.
Junto com o trabalho de organização, nós criamos o primeiro material artístico na era de Outubro.
LEF vai agitar as massas com a nossa arte, incorporando a força delas em se organizar.
LEF vai embasar nossas teorias com arte ativa, ao nível mais elevado das técnicas de trabalho.
LEF vai lutar pela construção estética da vida.
Rizoma
“Agora está acionada a máquina de conceitos do Rizoma”: Afrofuturismo, recombinação, desbunde, panamérica, mutação, art&fato, câmera-olho, conspirologia, e-spaço, esquizofonia, gibi, intervenção, hierografia, lisergia, neuropolítica, ocultura, potlatch e anarquitextura são as seções as quais o Rizoma.net se dedicou entre 2002 e 2009. Projeto editorial coordenado por Ricardo Rosas, importante figura na contracultura digital brasileira, o Rizoma.net publicou ensaios, entrevistas, poemas e outros textos traduzidos, coletados e transcritos sem as normas rígidas dos direitos autorais. Rosas faleceu em 2007, deixando no site uma grande biblioteca digital organizada postumamente em 19 edições.