Arte como manutenção
Mierle Laderman Ukeles (1939) é uma artista americana conhecida por criar o gênero de Arte de Manutenção. A artista, ao longo da sua obra, relacionou o conceito de manutenção e cuidado, com o trabalho doméstico, os serviços urbanos e o meio ambiente.
“A manutenção tem a ver com a sobrevivência, com a continuidade ao longo do tempo. Você pode criar algo em um segundo. Mas seja uma pessoa, um sistema ou uma cidade, para mantê-la, você precisa de continuidade. Acho que uma coisa que devemos fazer é valorizar e aprender com aqueles que prestam este serviço.”
Trabalho doméstico como manutenção
Após se formar em artes, Ukeles teve um filho e passou a refletir sobre a repetitividade do seu trabalho doméstico e o conceito de arte como liberdade. Ukeles escreveu um manifesto chamado Maintenance Art Manifesto. No texto, a artista reflete sobre sua posição enquanto mãe, mulher e artista e a quantidade de tempo necessário para assumir sua nova função de cuidadora, e como isso era visto como o oposto da liberdade criativa da arte. Ela então decide que o esforço de manutenção deveria também ser visto como arte.
No manifesto, além de propor a ideia de manutenção enquanto arte, Ukeles também propõe uma exposição chamada Cuidado (Care), de 3 partes: onde a artista performaria tarefas domésticas no museu, entrevistaria trabalhadores de serviços urbanos de manutenção, e por último ainda receberia lixos e reciclaria eles. A exposição foi rejeitada por todos os museus para onde foi proposta, mas o manifesto se tornou um texto conhecido de arte feminista e uma peça fundadora da Arte de Manutenção e do trabalho de Ukeles.
No trabalho Dress to Go Out/Undressing to Go In (1973), Ukeles retrata em uma sequência de fotografias preto e branco o processo de vestir seus dois filhos, demonstrando o caráter repetitivo da ação.
Serviço urbanos como manutenção
Posteriormente, Ukeles transiciona sua pesquisa para o espaço público, se aprofundando sobre a ideia de serviços urbanos como manutenção.
No trabalho I Make Maintenance Art One Hour Every Day(1976), Ukeles tira 720 polaroids de 300 trabalhadores de um prédio comercial em Manhattan, convidando-os a dedicarem uma hora do dia a Arte de Manutenção, que seria aparentemente o mesmo que o seu trabalho normal, mas com a provocação de renomear a ação.
Em Touch Sanitation (1978-80), Ukeles conheceu e cumprimentou mais de 8 mil trabalhadores do Departamento Sanitário de Nova Iorque, agradecendo-os pelo seu trabalho, documentando-os e registrando em um mapa e entrevistando muitos dos trabalhadores. O objetivo da artista era valorizar esse trabalho e quebrar preconceitos. Ukeles assumiu um posto não remunerado de artista em residência do Departamento Sanitário que detém até hoje.
Em 1995, Ukeles realiza a instalação Flow City, em que visitantes podem andar sob uma passarela transparente de uma estação marinha de descarte de lixo. Na exposição c.7500, de curadoria de Lucy Lippard, Ukeles fez uma performance de lavagem da escada de entrada do museu.