Ana de Jesus me viu bebê. É uma das melhores amigas da minha mãe. Ela me olha com o coração assustado. Eu, com 35 anos e cara de menino, estou pronto pra largar a poesia de lado e construir coisas grandes. Ana me conhece bem sem nunca ter falado comigo sobre política. Ela conhece os meus versos. Da última vez que nos vimos, se despediu vagarosamente. Disse que não importa aonde eu vá, que nunca me esqueça da minha mãe e, sempre que eu puder, que vá visitá-la. “Não se vai longe quem esquece de casa.” Era uma maneira de se despedir. Ana sabe que a vida é isso mesmo. Aquele era o seu jeito de me ensinar. Subir a serra na madrugada. Esperar amanhecer.
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N.E: O poema faz parte da série “História, poema”. Você pode conferir os textos da série completa aqui.