I
o que restou de amarelo agora está nos cantos:
a massa de vidraceiro; embaixo dos olhos,
embaixo dos móveis; a poeira dos cupins, os
símbolos plástico-desbotáveis de transgenia
na parte mais úmida dos armários (a isso
chamou-se oceano). A história do amarelo
é hercúlea: o girassol se esforçou para ser amarelo,
atrair uma abelha (também amarela) assim ele
despenca: olhando para um sol branco,
(se no desenho de um insetogente (amarelo)).
as gramíneas anciãs dizem que esse silêncio é amarelo.
somente elas viram. Algo grita. É a fome. É a reza.
II.
som de súbita tempestade: assim me contou a serpente
– guarda-se as facas (toda faca é amarela. Toda faca
é faca de amolar gente) gorgoleja-se com pressa as
goteiras. a glote árida ainda rasteja. Pouco se escuta:
granizo e algo sobre a Memória das Abelhas, Libélulas
do tempo de Abóboras e flores amarelas.
Costumávamos
cheirá-las
tocá-las sagrado
lamber bem
em rezas de benzedeira.
III.
tudo agora é verde menta
cheira a eucalipto a ventania
IV.
colhendo folhas do Limoeiro que brilhavam cremosas
sobre as contas do lustre solar. Ali despejava a borra
de café morna que pintava em uma lenta aquarela da
queda, tamborilava suavemente a terra, em um preparo
para deitar-se. Retornava para ela, os corpúsculos
sempre voltam para o todo. Em breve teríamos limões
de cheiro azedo e leve, que cairiam nas ranhuras
felinas em seus dedos e eles arderiam, detergente
líquido de maçã verde e eles arderiam. O calor rupestre
segura essa manhã, um azul calmo improvável
para as primaveras no semiárido. O céu,
um empático, repetia o labirinto do povo: pelas
manhãs fortes chuvas para lavar o dia, pela tarde
um mormaço impossível, pela noite os pés
pontiagudos. Que seria do próximo verão? É tempo
de guardar a colheita, proteger a plantação
com facas e isqueiros. Você viu quantos ladrões de
abóboras na vizinhança meu bem?
Lembrar de sempre dar água e pão velho
aos forasteiros. Mantenha as formigas longe,
essas pequenas e cabeçudas. É tempo.
Cítaras e chás nos chamam:
cascas de limão para as carpideiras, carpinteira,
para construir a casa que come, é tempo.
Apenas o fim será caridade.