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museu das flores extintas

julho, 2025

I

o que restou de amarelo agora está nos cantos:

a massa de vidraceiro; embaixo dos olhos,

embaixo dos móveis; a poeira dos cupins, os

símbolos plástico-desbotáveis de transgenia

na parte mais úmida dos armários (a isso

chamou-se oceano). A história do amarelo

é hercúlea: o girassol se esforçou para ser amarelo,

atrair uma abelha (também amarela) assim ele

despenca: olhando para um sol branco,

(se no desenho de um insetogente (amarelo)).

as gramíneas anciãs dizem que esse silêncio é amarelo.

somente elas viram. Algo grita. É a fome. É a reza.

II.

som de súbita tempestade: assim me contou a serpente

guarda-se as facas (toda faca é amarela. Toda faca

é faca de amolar gente) gorgoleja-se com pressa as

goteiras. a glote árida ainda rasteja. Pouco se escuta:

granizo e algo sobre a Memória das Abelhas, Libélulas

do tempo de Abóboras e flores amarelas.

Costumávamos

cheirá-las

tocá-las sagrado

lamber bem

em rezas de benzedeira.

III.

tudo agora é verde menta

cheira a eucalipto a ventania

IV.

colhendo folhas do Limoeiro que brilhavam cremosas

sobre as contas do lustre solar. Ali despejava a borra

de café morna que pintava em uma lenta aquarela da

queda, tamborilava suavemente a terra, em um preparo

para deitar-se. Retornava para ela, os corpúsculos

sempre voltam para o todo. Em breve teríamos limões

de cheiro azedo e leve, que cairiam nas ranhuras

felinas em seus dedos e eles arderiam, detergente

líquido de maçã verde e eles arderiam. O calor rupestre

segura essa manhã, um azul calmo improvável

para as primaveras no semiárido. O céu,

um empático, repetia o labirinto do povo: pelas

manhãs fortes chuvas para lavar o dia, pela tarde

um mormaço impossível, pela noite os pés

pontiagudos. Que seria do próximo verão? É tempo

de guardar a colheita, proteger a plantação

com facas e isqueiros. Você viu quantos ladrões de

abóboras na vizinhança meu bem?

Lembrar de sempre dar água e pão velho

aos forasteiros. Mantenha as formigas longe,

essas pequenas e cabeçudas. É tempo.

Cítaras e chás nos chamam:

cascas de limão para as carpideiras, carpinteira,

para construir a casa que come, é tempo.

Apenas o fim será caridade.

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