“Free Radicals” é considerado um dos principais trabalhos do artista neozelandês Len Lye (1901-1980), pioneiro da animação experimental e das esculturas cinéticas na primeira metade do século XX. Apaixonado pelo movimento, Len Lye desenvolveu ao longo dos anos 30 uma série de animações abstratas em que explora cores e ritmos através da intervenção direta na película, sem precisar de câmeras.
Em “Free Radicals”, ele reduziu o meio cinematográfico aos seus elementos mais básicos – luz na escuridão – fazendo riscos na película preta e branca com uma variedade de ferramentas, desde agulhas até pontas de flecha e aparelhos dentários. O resultado é tão impressionante quanto fundamental, principalmente ao sincronizar as imagens com uma fita de campo da tribo Bagirmi, da África Central, fazendo com que os tambores e cantos potencializem os arranhões, tão dramáticos quanto um raio no céu noturno.
O filme ganhou o 2º prêmio na Competição Internacional de Filmes Experimentais que aconteceu na Feira Mundial de 1958, em Bruxelas. Em 1979 Len Lye decidiu reduzir a montagem do filme de, aproximadamente, 5 para 4 minutos. Stan Brakhage descreveu a versão final como “uma obra-prima quase inacreditavelmente imensa (um breve épico)”.
“Eu mesmo acabei observando a maneira como as coisas se moviam, principalmente para tentar sentir o movimento, e apenas senti-lo. Isto é o que os dançarinos fazem; mas em vez disso, eu queria colocar a sensação de uma figura de movimento fora de mim para ver o que eu conseguiria. Eu não conhecia o termo ‘empatia’ – isto é, o truque psicológico de se sentir inconscientemente no lugar de outra pessoa – mas certamente o estava praticando. Consegui me sentir na pele de qualquer coisa que se movesse, de um gafanhoto a um falcão, de um peixe a um iate, de uma nuvem ao farfalhar brilhante das folhas de hera em uma parede de tijolos. Essa sensação existia em profusão.”
– Len Lye, em Arte que se move: o mundo de Len Lye (2009)
“Free Radicals” é uma expressão poética magistral da investigação de toda uma vida com o movimento, como uma celebração da energia. O título do filme, inclusive, é uma referência à física moderna – “radicais livres” são partículas de energia – enquanto os rabiscos, por sua vez, nos remetem aos primórdios da vida, expressando sentimentos e pulsões de forma icônica.
As obras de Len Lye fazem parte do acervo de importantes museus pelo mundo e também estão reunidas e catalogadas pela Len Lye Fundation.