Rumaram os dois a bordo, o pai e o filho, entre as canoas silvestres daquele lugar. Aos poucos se recordavam, ambos, e era tudo que podiam fazer: o silêncio do ir e vir da água, a superfície lisa o interior profundo, caudaloso. O filho fazia o ar de suspiro, quase de tédio, mas sustentava o silêncio porque era assim que tinha que ser. Perverso? Assim era a vida, pelo menos ali, naquela canoa. O filho sonhava um dia perguntar uma coisa qualquer. Não precisava ser algo importante. O pai não fazia nada. Não era severo. Já estava velho e cansado, muitas guerras passadas. A vida que ele escolheu era aquela, bruto ser. E o silêncio, fidedigno ao próprio. Às vezes ria, é verdade. Ria muito, e cantava também – outra espécie de silêncio. Os amores vieram e se foram, e os dois ficaram. Por isso as frases curtas, mas certeiras.
Eu já quase fui muita coisa, meu filho.