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Xarpi na Central do Brasil

1992, 2016

setembro, 2023

No início da década de 1990, uma notícia (até então impensável) circulou nas capas de quase todos os jornais do Rio de Janeiro: a torre do relógio da Central do Brasil havia amanhecido pixada, ninguém sabia como. O autor? Atendido apenas pela alcunha de Vinga.

Depois que apagaram o nome pixado na torre do relógio, aconteceu o improvável: menos de duas semanas depois, a Central amanheceu pixada novamente – para o desespero da polícia, dos políticos e dos jornais cariocas. Mesmo assim, Vinga continuou em completo anonimato. Dessa vez, deixou uma mensagem no canto do relógio: “picho porque sou revoltado”.

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Vinga foi um dos precursores do xarpi carioca nos anos 1980 e 1990, e um de seus nomes mais lembrados. Fazia parte do bonde Grafiteiros do Oeste e, antes de pixar a Central, já era famoso pela ousadia e pela conquista de fachadas e topos de prédios – de vez em quando excursionava em patrimônios públicos e igrejas (como Arcos da Lapa e Igreja da Candelária). A polícia chegou a criar um falso Vinga para estampar os jornais e prestar contas para a população de seu paradeiro.

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Naquela época, o xarpi era uma arte nascente, que encontrava seus próprios termos. O seu “primo rico”, o graffiti, ainda não havia ganhado galerias e salões de arte mundo afora, muito menos fazia parte de programas para o embelezamento da cidade. O xarpi era ainda mais marginalizado e, para os pixadores, extremamente perigoso – com assassinatos sumários feitos por policiais e milícias locais que flagrassem alguém cometendo o ato. O risco, contudo, virou um padrão importante para os pixadores, que se vangloriavam dos seus feitos radicais. Aparecer nos jornais, então, era o ápice da trajetória – com reconhecimento e fama entre os pares garantidos.

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O relógio da Central é um dos ícones do Rio de Janeiro e paira no Centro da cidade com um ar imponente e poderoso. Sua “conquista” parecia ser impossível. Por isso, Vinga foi um pioneiro, comentado e lembrado por todos na cidade. Procurado pela polícia mas nunca encontrado, seu paradeiro é incerto. Uns dizem que morreu – já ouvi histórias de que caiu pixando nos arredores da Grande Tijuca. Outros que ainda anda por aí, se converteu ao cristianismo e, por isso, abandonou a pixação. Dizem que seus últimos nomes foram vistos no início dos anos 2000. Até hoje, não há certeza sobre seu verdadeiro nome. Contudo, Vinga se consagrou como lenda, com um legado que foi um divisor de águas no xarpi carioca.

Matéria na revista Manchete
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O nome de Vinga pixado em sequência

Em 2016, outro pixador decidiu repetir o feito – mas dessa vez, na era digital da computação. Kadu Ori preparou-se como um guerrilheiro e partiu para a Central decidido. Tudo foi registrado por sua câmera e, depois, colocado na internet. Ori também ganhou fama e apareceu em diversos jornais. Além dos seus nomes na fachada do relógio, ele também estampou uma famosa frase (quase tornado um ditado popular) do poeta russo Mikhail Lermontov: “nossa pátria está onde somos amados”.

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