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Baiafro

1978

agosto, 2023

Ilustração: Aldo Luiz

Baiafro é o primeiro de 11 discos da série MPBC – Música Popular Brasileira Contemporânea – lançada pela Phonogram-Polygram entre 1978 e 1981, com o intuito de apresentar diferentes vertentes da música instrumental brasileira ressaltando a mistura de ritmos nacionais com as influências mundiais do jazz fusion. Esta obra-prima de Djalma Corrêa, grande percussionista e pesquisador que nos deixou no ano passado, é fruto de um longo estudo da musicalidade afro-brasileira, especialmente baiana, representada no álbum pela capoeira, o samba de roda e o candomblé.

Djalma Corrêa nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, onde desde criança começou seus estudos na música, mas foi na Bahia, onde morou nos anos 60 e 70, que aprofundou sua pesquisa da cultura popular com ênfase na percussão. Em Salvador, teve aulas na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, sob coordenação do professor e músico alemão Hans-Joachim Koellreuter, e ainda dividiu espaço com Walter Smetak nos porões da Escola, quando montou um laboratório experimental de música eletrônica primitiva. Nessa época, também participou do show “Nós, por exemplo…”, que reuniu pela primeira vez Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Gosta, Tom Zé, entre outros expoentes da música naquele momento.

Utilizando o famoso Nagra, um dos primeiros gravadores de som portáteis, Djalma começa a reunir registros das manifestações populares na Bahia e posteriormente por todo o Brasil, que resultaram em mais dois álbuns lançados em 1977 – Candomblé e Folclore do Brasil – além de um precioso acervo, em grande parte ainda inédito.

Baiafro, por sua vez, começou como um grupo, batizado de Movimento Integrado Baiafro, que realizou espetáculos e apresentações em Salvador e chegou a ter mais de 20 integrantes, reunindo diferentes linguagens artísticas, como a dança, o teatro e as artes plásticas. Com a presença de Vadinho, entre outros Alagbês do Terreiro do Gantois (com quem Djalma aprendeu os toques de atabaque), esse Movimento foi um trabalho precursor na construção de uma linguagem artística afrodiaspórica.

Com liberdade e experimentalismo, Djalma Corrêa constrói um disco único e original, misturando influências eruditas e populares, com destaque para a polirritmia na faixa Baiafro e os instrumentos de fabricação própria nas faixas Banjilógrafo e Piano de Cuia. Após esse intenso período de pesquisa e produção, Djalma seguiu sua carreira participando de diversos projetos e apresentações, incluindo turnês com Gilberto Gil e Maria Bethânia, além da participação no grupo Doces Bárbaros, dando importante visibilidade à linguagem percussiva na música brasileira.

 

“Através da série M. P. B. C. – Música Popular Brasileira Contemporânea, a Phonogram se propõe a mostrar a gama diversificada de tendências hoje reveladas na música instrumental feita no Brasil, por profissionais instrumentistas, compositores e arranjadores, dispostos a encontrar o seu espaço dentro da música popular brasileira, ampliando o seu campo de ação e reconhecimento. Coube à Phonogram criar condições para realização desse projeto, sem entretanto limitar ou interferir na concepção musical de cada um dos participantes.
Agilidade, criatividade e domínio rítmico fazem de Djalma Corrêa um dos mais vigorosos percussionistas da atualidade. Como bom mineiro, ele vem trabalhando devagar e sempre, ao longo dos anos, na construção de uma sólida carreira de instrumentista, baseada em pesquisa, estudo e muita garra. Djalma é possuidor de instrumentos, incluindo atabaques e tambores de todos os tipos e tamanhos, flautas de encantadores de serpentes, panelas e pinicos. Isto sem falar dos instrumentos que ele mesmo inventa e constrói.”
 

  1. Homenagem a um Índio Conhecido – evidencia a musicalidade da prosa e canto de um dialeto do tronco linguístico Gê. A recriação do clima natural é obtida através de pios, flautas e pequenos tambores nativos. Este índio foi encontrado há alguns anos atrás nas ruas de Salvador.
  2. Samba de Roda na Capoeira – é uma maneira um pouco mais erudita de cantar o samba de roda e a capoeira, duas das manifestações populares mais autênticas da boa terra. Nos versos, uma alusão à repressão policial que a capoeira sofreu no passado, superada graças à malícia e manha da nossa gente.
  3. Baiafro – efetua a transfusão das matrizes africanas ao universo rítmico brasileiro.
  4. Samba da Ousadia – bate-papo bem humorado entre a cuíca do exímio instrumentista Neném e o tambor-falante (talking-drum) de Djalma. O diálogo evolui para um samba quente, daqueles que na Bahia costuma-se chamar “de ousadia”, com todos os ingredientes da sensualidade negra.
  5. Banjilógrafo – é uma pequena caixa contendo teclas (semelhantes a uma máquina de escrever) sobre cordas finas. A linha melódica fica por conta do violão sertanejo de Sodré, baiano natural de Santo Amaro da Purificação.
  6. Os 4 Elementos – trabalho experimental que parte do som natural da Água/Terra/Ar/Fogo para uni-los à cantiga e ao toque ritual do Orixá correspondente. Como se sabe, as divindades do panteão afro-brasileiro representam na sua grande maioria, as forças elementares da natureza.
  7. Piano de Cuia – foi largamente utilizado pelos escravos no tempo do Brasil Colonial. O piano utilizado nesta gravação foi construído por Djalma que, nas suas pesquisas, encontrou alguns remanescentes deste instrumento entre descendentes africanos.
  8. Tudo Madeira – inclui grande variedade de instrumentos deste material, entre os quais o balafon, flauta marroquina, cabaças, tambores, blocos e pulseiras.

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