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Ancient

2014

maio, 2023

Arte: Glauber Guimarães

The Orange Poem é uma banda de rock baiana, criada pelo compositor e escritor Emmanuel Mirdad. Em sua primeira fase, gravaram dois álbuns consecutivos, em 2005 e 2006, mas em seguida se separaram. Sete anos depois, Mirdad decidi retomar o projeto e ao invés do formato clássico, escolhe fazer uma série de EPs, cada um em parceria com um vocalista diferente. Foram seis lançamentos ao longo de 2014. Ancient, ou antigo em português, conta com a ilustre parceria de Mateus Aleluia, reunindo sua voz ancestral com o som progressivo e psicodélico laranja. A faixa 1 apresenta um poderoso blues que se estende por mais de 10 minutos, recheado de solos de guitarra e começando com os seguintes versos, traduzidos abaixo.

“Nós precisamos tanto de carinho,
tão importante como oxigênio,
tão raro como um abraço sincero,
tão caro nestes dias de egoísmo.

Nós afastamos as pessoas ignorando a amizade,
atraímos somente por negócio,
criamos condições absurdas para o desejo,
enquanto tentamos felicidade com coisas de plástico.”

Assim como o nome da banda, todas as músicas são cantadas em inglês, a única exceção é a terceira e última faixa, Andarilho da Ilusão, que completa magistralmente o tom épico e existencial do EP. O título da música é o mesmo do livro de poemas de Ildegardo Rosa, poeta e filósofo sergipano, também conhecido como Mestre Dedé. Como homenagem póstuma, essa faixa traz uma montagem de 15 poemas gravados na voz do próprio autor, construindo um texto que percorre quase 9 minutos acompanhado pelos vocais de Mateus Aleluia e a excelente produção musical de Tadeu Mascarenhas.

Em 2021, The Orange Poem voltou a ativa para a produção do EP Andanças, agora em parceria com Mateus Aleluia Filho e assumindo, além das letras em português, uma sonoridade mais diversificada. Esse trabalho conta com mais uma faixa composta de poemas do Mestre Dedé (Candeeiro) e também a faixa Meu Negro, em parceria com o poeta Ricardo Aleixo.

Abaixo, além do EP Ancient para ser apreciado na íntegra, segue alguns dos poemas originais que compõe a faixa final.

  1. Cuts (10:45)
    [Cortes]
  2. Clouds, Dreams (05:57)
    [Nuvens, Sonhos]
  3. Illusion’s Wanderer (8:54)
    [Andarilho da Ilusão]

***

Solução

Corri como um louco
em busca da felicidade
e trouxe apenas as mãos vazias,
pendentes de ilusões

Caminhei, então, devagar,
em busca do meu próprio destino
e hoje trago as mãos cheias,
carregadas de vida

 

O enigma

O que está dentro
está fora
e o que está fora
está dentro

Porque não existe
nem o dentro
nem o fora,
apenas o ser misterioso,
no aqui e no agora

No aqui, que é local nenhum,
apenas estando

No agora, que é tempo nenhum,
apenas sendo…

 

O curso da vida

Para que direção corre
o curso da vida?

Para cima, para baixo,
para um lado, para o outro,
para frente ou para trás?

Ou corre para lugar nenhum?

Então, observe apenas,
não interrompa
nem interfira

Deixe-o simplesmente correr,
não importa para onde

O que importa
é estar nele,
é ser ele mesmo,
pois esse é o nosso destino,
a nossa eterna condição

 

Desde o princípio eu sou

Desde o princípio
que nunca principiou,
pois sempre foi, é e será,
eu sou

Não há caminho
a se percorrer,
algum Deus a se buscar
ou iluminações a se alcançar

Tudo já está pronto
como sempre esteve,
apenas abra os olhos,
o desmistério acontece,
se revela o que era irrevelado
face à minha ignorância,
minhas perdições,
meus pecados,
minhas ilusões

 

O egoísta

Deixa
de olhar para o teu umbigo
como se fosse
o centro do mundo

O teu destino pessoal
não tem a mínima importância,
pois tu és
apenas um fenômeno
passageiro e ilusório,
uma emanação,
do que és,
sempre fostes
e sempre serás

Desperta, homem!

Aí, então, saberás
que esta eternidade
é tu mesmo
e tudo mais que existe

 

Mestre Dedé, O Andarilho da Ilusão
Ildegardo Rosa, Editora Mondrongo, 2017

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