vê
como as mãos ainda úmidas e impregnadas de louça
traçam uma linha caótica na superfície das coisas
imóveis,
vê
ao longe o adesivo de prioridade descolando da parede opaca
do metrô onde empurram como uma onda de carne e ar
que me impede o futuro,
vê
é possível concluir haver mérito em levantar-se,
ainda que seja como um cavalo senil
ainda que seja como um galo puído
ainda que seja como um touro cego solto numa arena vazia
ou
numa mesa presa no canto da sala,
onde é sempre possível embriagar-se de sopa
onde é sempre possível embriagar-se de amor no final do filme
onde é sempre possível embriagar-se de sexo barroco
ou
de uma bomba relógio, um chicote de fogo, o poema
vê
às vezes é possível descer do pódio
e provocar uma tsunami na sopa que ferve
mesmo que esta tenha o gosto insosso e incolor
de um enxame de abelhas sob a luz faca.