Nós Dois Cantando Sidney Magal Na Feira De São Cristóvão
estação da Penha
desemboco perdida na linha de fuga, percebo
-como se percebem os furos de tatuí na areia de grumari –
o grão de purpurina no fim do carnaval
estação da Penha
desemboco perdida na linha de fuga, percebo
-como se percebem os furos de tatuí na areia de grumari –
o grão de purpurina no fim do carnaval
meu segredo é não reclamar de nada
é seguir a vida
como a vida é
os outros que me perdoem, as mulas que me
abençoem
Canta a Deusa às Musas invertidas
A cólera de Lethes, a moderna filha:
Museográfica flama, ars do passado,
Da ruína da história, um esquecimento
Da Memória.
Nada-menino, uma vez era. Nada, na medida em que passava e engrandecia, sentiu-se sozinho, quis conversar. Quis conversar, mas percebeu que ele, Nada, sozinho estava. Indagou:
– Por quê esta solidão?
Nada pensou e, ao pensar, concluiu:
– Se me chamo Nada e me sinto sozinho, procuro alguém e não acho… Creio que, outro Nada, não deve haver.
o silêncio é uma estrada e a distância cavada pelo vazio é intransponível
cada passo dado é um desvio entre frases suspensas,
traçado de fuga aberto em picadas na longa vertigem erguida pelo nada dito
pois das incertezas
teremos feito mar
e de nossos braços
jangada
uma embarcação torta
e delicada
só falaria deles em frente a todos que pudessem ouvir
pra minha sorte senhorzinho era mudo
quisesse ouvi-lo teria de olhá-lo
quisesse olhá-lo acabei por desejar surdez
mas senhorzinho enxergava que era uma beleza
o sossego do meu pai
quando, nas manhãs de
chuva ou de sol, separa
as sementes enquanto,
sentado no rio, observa
o fluir rasteiro e redondo
das águas, a voz serena
e ruidosa da água.
De inexplicáveis ânsias prisioneiro
Hoje entrei numa forja, ao meio-dia.
Trinta e seis graus à sombra. O éter possuía
A térmica violência de um braseiro.
Dentro, a cuspir escórias.