Esta série foi iniciada no decorrer de dois meses de minha Residência Artística com a Galeria Municipal do Porto no Centre de Création Contemporaine Olivier Debré, em Tours, cidade no Centre-Val de Loire em França.
A partir da observação de que a cidade é impregnada de seres vivos em cada espaço, desenvolvi uma prática de observação e contemplação, radicalizadas por meio do contacto físico com este ambiente construído. Desconstruindo a separação conceptual entre “cidade” e “natureza” para uma ecologia sensível que leva em conta as edificações humanas – que são feitas de elementos provenientes da natureza, e transformam-se em habitáculo para outras espécies que não apenas os seres humanos.
Em uma postura receptiva para com as construções da cidade, a frottage é assumida como um desenhar-com as paredes, o chão, os canos, a madeira do enxaimel. A textura irregular e granulada revela algo muito diferente do que se vê no cenário a olho nu, compondo assim uma não-figura, um registo do que não se vê, mas que ainda assim, está lá. Se, por um lado, não vemos os vincos e rugas de uma parede da qual recolheu-se uma frottage, resta-nos os espaços em branco ou acinzentados do papel para deduzi-los e imaginar as possíveis vidas que o podem habitar.
Vendo assim, as superfícies da cidade como sendo a sua pele, composta de rugas, vincos, poros, veios, cicatrizes, à mercê do tempo, do clima e da gravidade, assim como a pele humana. E esta série, uma recolha de partes desta grande pele.
Ficha Técnica:
Três de uma série de trabalhos. Frottage em grafite sobre papel Hahnemühle
29.7 x 21 cm