Com estreia em dezembro de 1964, alguns meses depois do golpe militar, o lendário show Opinião demonstra a complexidade estética e política de uma época rompida pelas trevas progresso-obscurantistas da ditadura. Em novembro do mesmo ano, Nara Leão lançava Opinião de Nara, álbum que inspirou o nome do show-manifesto dirigido por Augusto Boal. Uma das obras de rara qualidade ligada ao CPC da UNE, Opinião de Nara conta com Sina de Caboclo e Esse Mundo é Meu, músicas altamente engajadas. Ela rompe de vez com o título de “musa da Bossa Nova” e passa então a cantar sambas de protesto denunciando as mazelas vividas no morro e no campo. Ao lado de Zé Keti e João do Vale, Nara Leão também encena o espetáculo cujo repertório em parte se assemelha ao seu próprio álbum.
Além de ser uma das primeiras a acreditar em Chico Buarque, lançar Maria Bethânia e ter seu apartamento como a origem da Bossa Nova; em Opinião, a visionária artista ajuda a trazer o samba de morro para o centro da música nacional. Sem dúvida subestimada, Nara Leão já demonstra neste que é seu segundo álbum o porquê de ser uma das personalidades mais importantes na história da MPB.