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A compositora Fanny Mendelssohn, e seu irmão Felix

novembro, 2023

Fanny Mendelssohn (1805-1847) foi uma compositora e pianista alemã do começo do século XIX, no começo da era Romântica da música clássica. Fanny foi uma pianista talentosa e compositora prolífica, tendo composto 250 canções, 125 peças para piano, um trio para piano, um quarteto para piano, uma abertura de orquestra e quatro cantatas. No entanto, não buscou se tornar uma artista publica em seu tempo de vida devido às dificuldades para mulheres artistas na época. Seu irmão 4 anos mais novo, Felix Mendelssohn, se tornou um dos mais importantes compositores de todos os tempos e publicou algumas de suas composições sob o seu nome. 

Fanny e Felix cresceram em Berlim, filhos de uma influente família judaica, tanto pelo lado materno, quanto paterno, que buscaram posteriormente disfarçar sua ascendência acrescentando um novo sobrenome cristão, Bartholdy, do qual Fanny desgostava profundamente. 

Desde criança Fanny e Felix estudaram música, primeiro com sua mãe e depois com Ludwig Berger e Carl Friedrich Zelter. Aos 14 anos, Fanny tocou de cor os 24 prelúdios de Bach de Das Wohltemperierte Klavier para o aniversário do pai. Em uma carta escrita por Zelter para Goethe em 1816, ele menciona o talento de Fanny como pianista e diz que ela “toca como um homem”, indicando que ela seria mais proficiente que o irmão, Felix. Posteriormente, Goethe escreve um poema para Fanny.

Pintura de Fanny aos 12 anos
Fanny aos 12 anos

Apesar do seu talento, sua família pressionou para que ela não se tornasse uma artista profissional. Seu pai escreveu em uma carta para ela, de 1920, que enquanto o seu irmão Felix poderia vir a se tornar um profissional, para ela a música deveria ser meramente um “ornamento”. Fanny e seu irmão foram muito próximos ao longo de toda a vida e tinham diversas trocas musicais. Apesar disso, ele desencorajou que ela realizasse sua música de forma pública, uma vez que isso poderia interferir com as suas atividades enquanto dona de casa, como consta na carta de 1837 em que ele diz: 

“Pelo que conheço de Fanny, devo dizer que ela não tem inclinação nem vocação para a autoria. Ela é demais tudo o que uma mulher deveria ser para isso. Ela regula a sua casa e não pensa no público nem no mundo musical, nem sequer na música, até que os seus primeiros deveres sejam cumpridos. Publicar só iria perturbá-la nisso, e não posso dizer que aprovo isso.”

Em 1842, Felix foi recebido pela Rainha Vitória no Palácio de Buckingham, que disse que gostaria de cantar sua canção favorita do compositor. Felix então confessou que na verdade a compositora da canção era Fanny.

Fanny se casa aos 24 anos com o pintor Wilhelm Hensel e adota seu sobrenome. Felix teria prometido escrever uma música para o casamento mas não entregou, então Fanny compôs uma na noite anterior da cerimônia. O casal teve um filho, Sebastian Hensel. Fanny cuidou da sua família durante um surto de cólera e depois escreveu uma Cantata para Cólera.

O marido de Fanny era um apoiador das suas composições e teria colocado como condição do casamento que ela continuasse a compor. Todo dia ele colocava uma partitura em branco na sua estante e pedia que ela escrevesse. Ao contrário de seu irmão e do seu pai, ele incentiva ela a tornar suas composições públicas.

Em 1846 ela decide publicar uma coleção de canções (Op. 1) como Fanny Hensel. Felix escreve para ela para demonstrar seu apoio:

“[Eu] envio-lhe minha bênção profissional ao se tornar membro do ofício… que você tenha muita felicidade em dar prazer aos outros; que você experimente apenas os doces e nada da amargura da autoria; que o público atire em você com rosas, e nunca com areia.”

Fanny escreveu em seu diário que sabia que o irmão reprovava a publicação mas que tinha ficado feliz com a congratulação. 

Em 1847, Fanny conhece Clara Schumann, na época já uma renomada pianista e esposa do notório compositor Robert Schumann. Um amigo de Felix, Henry Chorley, sugere que se Fanny não tivesse nascido em uma família de alta classe, poderia também ter se tornado uma pianista famosa como Schumann. Dessa forma, sua classe seria tanto um obstáculo para sua carreira quanto seu gênero. Felix regeu a estreia do primeiro concerto para piano de Clara. 

Fanny morreu aos 41 anos, de complicações de um infarto enquanto ensaiava uma cantata do seu irmão. Seu irmão morreu da mesma causa, menos de seis meses depois.

Anos depois da sua morte, em 1970, um colecionador e produtor musical, Henri-Jacques Coudert, encontrou a partitura de uma sonata para piano (Easter Sonata) de Fanny em um sebo de Paris, assinada F. Mendelssohn. Coudert supôs que a composição era de Felix e gravou ela dessa forma. Em 2010, uma musicologista, Angela Mace Christian, conseguiu acesso ao acervo da família Mendelssohn em Berlim e encontrou um conjunto de obras de Fanny com páginas faltando, aonde a partitura de Coudert se encaixava perfeitamente. Coudert tentou negar dizendo que a composição não poderia ser de Fanny por ser muito violenta e masculina e insistiu que ela teria apenas copiado para o irmão. No entanto, as páginas estavam numeradas e se encaixavam perfeitamente no caderno de Fanny que estavam com riscos e anotações, não sendo assim provável que fossem uma cópia. A sonata é desde então atribuída a Fanny, depois de anos sendo apresentada como de Felix. 

 

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