Cathy Berberian é considerada uma das maiores cantoras líricas do século XX. Associada ao espírito inventivo e experimental das vanguardas musicais das décadas de 1950 e 1960, era conhecida por sua precisão e extremo controle vocal – explorando as possibilidades da voz enquanto instrumento, com técnicas expandidas que desafiavam os limites então conhecidos. Versátil, sua presença de palco e suas performances quase teatrais a tornaram uma verdadeira lenda. Alguns dos principais compositores do século XX compuseram peças diretamente para sua voz – como é o caso de John Cage e Igor Stravinsky, por exemplo. Entretanto, foi com o marido Luciano Berio que Berberian firmou parceria mais prolífica.
A cantora também experimentou com canções populares e gêneros da indústria cultural, como o seu trabalho de releitura de canções dos Beatles em estilo clássico – os arranjos foram feitos para quarteto de cordas e quintetos de sopro, e Berberian interpretou as canções em um espirituoso estilo barroco. O interesse pelo mundo contemporâneo e pelas produções artísticas de grande circulação também aparece em “Stripsody” (1966), uma das peças vocais de Berberian – uma experimentação que narra uma história repleta de onomatopeias, sons não-verbais e frases non-sense, com uma partitura gráfica composta de desenhos inspirados na pop art, nos quadrinhos e nos desenhos animados (que àquela altura já eram febre entre os jovens). Stripsody é um exercício lúdico, mas profundo, sobre as possibilidades da voz e da notação dos sons.