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O Homem Correndo na Savana / AnhangueraParanaíba

2003

Publicado originalmente em encarte do CD "O Homem Correndo na Savana". Stúdio OM, Goiânia.

Encarte do CD "O Homem Correndo na Savana"

Ário: A origem das habilidades extraordinárias

Estas composições para grupo de Jazz, assim como as outras, são de primordial importância para a construção da era não moderna. Na verdade elas são as Demoiselles d’Avignon ao contrário e apontadas diretamente para o terceiro milênio, rompendo com a bestialidade da era anterior. Estes pedaços de arte e retalhos de som foram Feitos e Gravados, ao longo de pressentimentos e clarividências com firmeza e esperança.

Ao povo comum – Antes das coisas virarem arte ou um cesto de palha, antes das coisas virarem coisas das quais todo mundo fala, existe o mundo do sonho que é a Vontade Pura. O pilão antes do pilão. A renda antes da renda. O cesto antes do cesto. A borduna antes da borduna. A mó antes da mó. Assim foi feito – antes de ser feito.

Aos filósofos – O ente_o objeto_ não participa do primário porque o primário não tem tempo para se fixar e se tornar um ente. No primário o tempo se torna realidade e o homem se torna claridade.

Aos artistas – Antes da arte existe o mundo da paleoarte, da paleofania e da paleosonia, este muito ligado a água-viva, e à litofania. Existe também a paleoselva. Antes.

Aos teólogos – Ário de Alexandria dizia que quando a Palavra se fez Carne ocupou o lugar da Alma no Homem. Uma afirmação belíssima, lindíssima. O ninho dos grande profetas. Como as grandes igrejas não gostam de profetas a sua afirmação foi considerada ironicamente uma heresia. Ário (260 a 335 d.C.), nascido na Líbia e educado na escola catequética de Luciano de Antioquia era sacerdote em Alexandria, segunda cidade do Império Romano. A negação de Ário construiu a base reacionária do cristianismo não abrigando o nascimento da Palavra (Arte) nos mais simples e rudimentares seres humanos. Alexandria era um centro de conhecimento Helenístico e lugar de uma famosa escola dedicada a expansão do cristianismo entre as classes mais cultas. O espírito inquieto, a dialética sutil, a palavra vivaz, a imaginação poética e a vida austera conferiram a Ário a ascendência sobre o clero e as religiosas de sua cidade. A partir 315 d.C. começou a propagar o seu pensamento através de homilias, cartas, canções sacras e o escrito Banquete. Pontos centrais da sua doutrina: o Pai é único não-gerado, não-criado, Eterno e sem Princípio, o único que é a Origem; é anterior ao filho, se não teríamos dois não-gerados e a negação da unicidade de Deus (do Espírito); se o pai gerou o filho esse começou a existir no tempo (“houve o tempo em que o Verbo não existia”); (o Verbo vem do não-ser, não é eterno, foi criado do “nada, no tempo); o verbo é pura criatura, mutável, podendo conquistar novas perfeições. No esquema Helenístico o logos era eon imediatamente abaixo de Deus, uma espécie de organizador, o princípio que ordena a matéria caótica; segundo a concepção de Filon de Alexandria “Deus transcende o mundo de forma tão absoluta que não pode entrar em contato com ele”; a Palavra é plena de graça mais foi elevada a condição de criação de Deus (pode-se chamá-lo de Deus, mas é necessário ter presente que tal termo deve ser entendido de maneira própria, ou de modo impróprio); sua perfeição moral e sua fidelidade à bondade de Deus valeram-lhe a glorificação; é unido o Deus pelo querer (união moral). Como a sua visão da natureza humana derivava de Platão para este o ser humano é matéria animada pelo espírito ao interpretar Jo I 1 a 4, Ário dizia que quando a Palavra (Inspiração) se fez carne ela ocupou o lugar da alma no profeta. Assim dizia Ário de Alexandria no século II d.C. Eu digo: a Palavra é o Mundo da Vontade Pura. (Danilo Mandoni + comentários de Guilherme Vaz).

Ária Setentrional Rumo Norte é uma composição para sopro, percussão e voz. Gravada em Goiânia neste ano de 2001. As palavras dizem tudo.

Os Meninos do Afeganistão, para acordeom e orquestra, para estes heróis do deserto.

O Homem Andando no Cerrado, é uma composição para orquestra que fala tanto das savanas mundiais como do cerrado brasileiro. A palavra é a Música.

AnhangueraParanaíba é um composição que diz respeito ao cruzamento destas duas Avenidas às 21:00 hs na cidade de Goiânia.

Cinco e Meia da Tarde, Ao Pé da Letra e O Homem Correndo na Savana foram gravadas em concertos ao vivo no Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro entre setembro e outubro de 1975; quero notar a excelência do desempenho dos músicos que me acompanharam nesta obra. Que Deus abençoe a Palavra.

Aos Músicos

Não sabemos o que está por trás do som de um paneiro de couro amarrado ao tronco oco de madeira. Sabemos apenas que seu som nos faz estremecer. Portanto não sabemos nada de coisa alguma e a História da música e do Homem ainda não começou. Todos estão à margem da Arte, da história e do conhecimento apesar de falarem muito e de escreverem muito. A música nasce dos instrumentos, da voz dos pressentimentos e dos sonhos, mas o homem insiste em vê-la nascer do papel. Nada sabemos. Não nos dirigimos para o som dos Elementos, nem dos Arcanos, nem dos Couros Ancestrais, na prática de uma ignorância total e cotidiana. O mesmo fazemos com o Mundo e com a Civilização. Portanto estamos na Pré-Idade e na Pré-Era — tudo mais são tentativas. Nem o Homem nem a Arte nasceram ainda. Não conhecemos o Fenômeno. Grupos indígenas não cantam sem antes terem sonhado com o canto. Não sonhamos diariamente com as teofanias. Não criamos o que deve ser criado. Não há Fé. Não existem inscrições nas Pedras. Mas existem os Extraordinários.

 

Texto publicado no encarte do CD O Homem Correndo na Savana, de 2003.

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