Um dia, o menino Medo disse ao Bicho-Papão:
– Sai Bicho, hoje quero te ver.
(O Bicho saiu, tímido, depois de tanto viver embaixo daquela cama baixa, apertada para
um senhor Bicho bem nutrido e vivaz)
Saiu, e disse o Bicho:
– Olá menino Medo, há tempos esperei por esse chamado… Mas, o que foi que houve
que, no dia de hoje, resolvestes me chamar? Tivestes, finalmente, a coragem?
Ao que o menino Medo retrucou:
– Não, sêo Bicho. Sempre indaguei a respeito de meu nome, Medo. Mas medo de quê,
se em árvore subo, ralo joelho, rio no escuro…? Hoje, antes de dormir, pensei: – “Quero
sentir meu nome”. Achava que você, sêo Bicho, era só lenda, precisei ver. Vejo e,
realmente, sêo é muito feio, sinto medo.
O Bicho-Papão então, ainda não satisfeito, insistiu querendo saber o motivo do
chamado:
– Mas menino, se tu sabias que eu era feio e que, quando me visses, sentirias medo, por
que me chamou?
E o menino, com essa mágica inerente às crianças, respondeu:
– Hoje, sêo Bicho, ao invés de sonhar, quis existir.