pesquise na USINA
Generic filters

Sequenza III

1965

maio, 2025

Luciano Berio (1925-2003) foi um compositor italiano de vanguarda. Iniciou seus estudos musicais com o pai e o avô e depois se formou no  Conservatório de Milão. Conheceu a cantora Cathy Berberian – que, além de marcar definitivamente sua obra, também se tornou sua esposa. Foi influenciado pelo dodecafonismo e participou dos cursos de Darmstadt, entrando em contato com Boulez, Stockhausen e Ligeti. As Sequenza, série de obras para instrumentos solo escritas entre 1958 e 2002, exemplificam sua busca por expandir as possibilidades técnicas e expressivas dos instrumentos. Entre elas, a Sequenza III (1965), escrita para voz feminina e dedicada à Cathy Berberian.

Aqui, a peça é interpretada por Laura Cattani, cantora italiana reconhecida como uma das principais sopranos em atividade. É famosa por suas interpretações de obras associadas à vanguarda musical. Formada no Conservatório Giuseppe Verdi de Milão, estreou papeis em óperas contemporâneas, além de atuar em repertório tradicional, particularmente Mozart. Sua atuação estende-se à música de câmara e à música contemporânea.

A obra utiliza uma notação vocal expandida, com técnicas não convencionais para o canto – como gemidos, sussurros, gritos etc. A partitura também indica estados de tensão e urgência, e substitui os tradicionais compassos por uma orientação temporal medida em segundos, onde figuras rítmicas tradicionais sugerem apenas caráter geral (rápido ou lento), sem valores precisos. Essa abordagem desafia convenções, equilibrando precisão composicional e liberdade interpretativa. Ao explorar sonoridades vocais expandidas, a peça consolida-se como um marco da vanguarda do século XX, alargando os limites da escrita musical e das possibilidades expressivas da voz humana.

A nota abaixo foi escrita por Luciano e Berio e traduzida pela USINA. Está disponível no site que guarda a memória do compositor.

***

Sequenza III

for voice (1965)

A voz sempre carrega um excesso de conotações, independentemente do que esteja fazendo. Do mais grosseiro dos ruídos ao mais delicado dos cantos, a voz sempre significa algo, sempre se refere além de si mesma e cria uma enorme gama de associações. Em Sequenza III, tentei assimilar muitos aspectos da vida vocal cotidiana, inclusive os triviais, sem perder os níveis intermediários ou mesmo o canto normal. Para controlar uma gama tão ampla de comportamentos vocais, senti que precisava quebrar o texto de uma forma aparentemente devastadora, para poder recuperar fragmentos dele em diferentes planos expressivos e reformulá-los em unidades que não fossem discursivas, mas musicais. O texto tinha de ser homogêneo, para se prestar a um projeto que consistia essencialmente em exorcizar as conotações excessivas e compô-las em unidades musicais. Esse é o texto “modular” escrito por Markus Kutter para o Sequenza III.

Give me a few words for a woman

to sing a truth allowing us

to build a house without worrying before night comes

Em Sequenza III, a ênfase é dada ao simbolismo sonoro dos gestos vocais e, às vezes, visuais, com as “sombras de significado” que os acompanham, e às associações e conflitos sugeridos por eles. Por esse motivo, a Sequenza III também pode ser considerada um ensaio dramático cuja história, por assim dizer, é a relação entre a solista e sua própria voz.

Sequenza III foi escrita em 1965 para Cathy Berberian.

Luciano Berio

Boletim da USINA

Quer ficar por dentro de artes e tudo mais que publicamos?

Nosso boletim é gratuito e enviamos apenas uma vez por mês. Se inscreva para receber o próximo!

Boletim da USINA

Quer ficar por dentro de artes e tudo mais que publicamos?

Nosso boletim é gratuito e enviamos apenas uma vez por mês. Se inscreva para receber o próximo!