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Tempo & Magma

2015

agosto, 2024

Tempo & Magma é o terceiro álbum do músico, pesquisador e artista baiano Tiganá Santana. Lançado em 2015 pelo selo sueco ajabu!, este álbum duplo é fruto de uma residência no Senegal proporcionada por um Prêmio da Unesco. Por cerca de 5 meses Tiganá conviveu, compôs e gravou em parceria com os músicos da Sobo Bade Band ¹, oriundos de Senegal, Mali e Guiné-Conacri, além do percussionista Sebastian Notini e do baixista Andreas Unge, responsáveis pela produção musical. O disco foi finalizado posteriormente no Brasil, acrescentando a participação da cantora Céu e da grandiosa Mãe Stella de Oxossi. Reconhecido internacionalmente e apreciado ao redor do mundo, Tempo & Magma se destaca como uma obra-prima na música contemporânea, concretizando uma ponte estético-musical tão preciosa com elegância e excelência, desde os arranjos e composições até o título e capa do disco.

Tiganá Santana, nascido em 1982 em Salvador, é o primeiro compositor brasileiro a gravar composições próprias em línguas africanas (kikongo e kimbundo), apresentadas em seu primeiro álbum Maçalê (2010), que inaugura uma trajetória artística dedicada a valorização das matrizes africanas e suas origens. Seu segundo álbum foi The Invention of Colour (2013), gravado na Suíça com a participação de músicos de diferentes países e a presença de um novo instrumento, batizado como violão-tambor². Vida Código (2019), gravado novamente em Salvador 10 anos após seu primeiro álbum, marca uma nova fase na carreira do artista, apresentando nove canções compostas em português, francês, kikongo e espanhol.

Seu quinto álbum, Milagres (2020), foi realizado à convite do selo alemão Martin Hossbach para que Tiganá, junto com os músicos Ldson Galter e Sebastian Notini, fizesse uma releitura do álbum Milagre dos Peixes (1973) de Milton Nascimento, diante de mais um momento político tenso no país. Mais recentemente lançou Iroko (2023), em parceria com o músico cubano Omar Sosa, e Canção Noturna (2024), gravado em Serpa, interior de Portugal, ao lado dos músicos e amigos Leonardo Mendes e Ldson Galter.

   

Tempo & Magma (2015) começa evocando a criação do mundo com a faixa Nza (The Universe Created Itself) e a partir daí segue em uma mistura de línguas, ritmos e sentimentos ao longo de 14 faixas, nos levando para dentro desse universo que se abre no início. Na primeira metade do álbum escutamos uma sequência de belíssimas canções, em português e outros dialetos, embaladas pela voz envolvente de Tiganá e, em especial, pelo ngoni de Diango Diabaté nas faixas Vazante, Enigma e Mon’ami.

A segunda parte do disco, começando com Congo – Angola – Bahia, nos leva cada vez mais para o território em que este trabalho foi concebido, com maior presença da Sobo Bade Band, especialmente na faixa Sobo – Bade. Este lado ainda conta com a faixa Ayinabé Naidi Ndioufi, composição do senegalês Djibril Bâ, e Guinean Hunters’ Chant, gravação de um cântico tradicional de caçadores da Guiné-Conacri. Com Bwanana, o álbum termina tão mágico quanto começa, nos deixando um grande exemplo de parceria e criação musical.

Em entrevista para a série Os sons do Pensamento, produzida pelo Sesc 24 de Maio, Tiganá comenta sobre o período de residência e o título do disco:

“Mas até chegar a gravação do álbum, que foi já no fim da minha estadia no Senegal, já nas últimas semanas, eu me encontrei com as pessoas e nós desenvolvemos laços, relações. E são essas relações que são traduzidas no álbum. As tranças entre as línguas, as tranças entre as perspectivas. Entre os olhares e os toques a partir do mar e para o mar. O mar do Senegal, o mar da Bahia. O mar de Toubab Dialao, mais especificamente, o mar de Salvador. Nesse caso muito mais o mar que reúne do que aquele que cinde, que separa. Tudo isso é vertido no Tempo & Magma.

O espaço, Sobo Bade, também, foi construído a partir de algumas rochas vulcânicas. E é por isso que o magma está ali, no álbum. Pensei nessa escultura que o tempo promove para que o magma endureça, se torne rocha, se torne outras coisas, traga outros desenhos. E também o tempo expandido que tive na experiência com os amigos do Senegal. Da gente ir bebendo o tempo no chá, deitando com o tempo no chão, tocando o tempo com os instrumentos, cantando o tempo. E foi isso basicamente que aconteceu. Então o título vem disso, do estabelecimento de um outro tipo de relação com certas dimensões de temporalidade.”

Além de músico, Tiganá Santana é Doutor em Letras pela USP com a tese “A cosmologia africana dos bantu-kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil” e atualmente é professor da UFBA, onde se graduou em Filosofia. Como curador realizou a mais completa exposição sobre a cantora e compositora Dona Ivone Lara, no Instituo Itaú Cultural em 2015. Também produziu dois álbuns da cantora Virgínia Rodrigues e publicou o livro de poemas “O oco-transbordo” pela editora Rubra Cartoneira, em 2013. Nos últimos anos tem participado de diversas exposições nacionais com instalações, performances e obras sonoras, confirmando sua atuação como um dos principais artistas da atualidade.

 

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[1] Sobo Bade Band é constituída por: Ndongo Faye (Senegal) – sabar e djembe; Al Hassane Camara (Guiné-Conacri) – cabaça e voz; Mousséké le Polyvalent (Senegal) – voz; Diango Diabaté (Mali) – ngoni; Oumar Sadio (Senegal) — balafon. Participaram, ainda, das gravações os músicos Djibril Bâ (Senegal) — riti e voz, compositor de uma das faixas do álbum (Ayinabé Naidi Ndioufi); Malick Diop Fall (Senegal) — toxoro; Oumar Baldé (Senegal) — voz; Ibrahim Camara (Guiné-Conacri) — kirrin, gongoma e voz.

[2] “É um violão com 5 cordas, em vez de 6, e que tem sons graves, permitindo que a gente tenha, como se diz na Bahia, perguntas e respostas. Há baixos em cima e baixos embaixo, junto com a textura que ele acaba tendo, mais grave. Isso me fez metaforizá-lo como um violão-tambor”.

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