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La Flûte Des Mornes

1981

fevereiro, 2023

© Brigitte Costa-Leardée

“La Flûte Des Mornes” (1981) é um álbum icônico das tradições musicais da Martinica, fruto do trabalho de pesquisa e resgate de Max Cilla para perpetuar a flauta de bambu tocada por seus antepassados, que no início do século XX já estava caindo em esquecimento. Com entusiasmo, Max Cilla aprendeu a fazer a flauta tradicional de seis furos e conquistou sua legitimidade como instrumento no circuito da música internacional, registrando um método padronizado de fabricação e tablaturas.

A Flauta das Colinas, como foi batizada por ele, representa o som do interior, das matas, das regiões íngremes do Caribe, onde os negros se refugiavam do regime colonial francês, presente na ilha desde o século XVII até 1946. Apaixonado pelos ritmos afro-latinos, em especial o caribenho, a flauta de Cilla ecoa uma sonoridade contagiante, acompanhada por uma orquestra de tambores rústicos.

Representante da música tradicional e contemporânea da Martinica, como ressalta a capa do álbum, Max Cilla também fez participações e parcerias com diversos músicos, além de ter lecionado durante anos na sua terra natal. Em 1989 gravou “La Flûte Des Mornes – Volume 2”, em que expande sua poética com a presença de novos instrumentos no arranjo.

Abaixo, depois do álbum, segue uma apresentação do artista traduzida do seu site oficial e um vídeo de 2015, em que ele toca, apenas na flauta, o tema principal do disco.

 

  1. Le Flûte De Mornes (7:41)
    [A Flauta Das Colinas]
  2. La Ronde Des Écoliers (6:48)
    [A Ronda Dos Estudantes]
  3. Crépuscule Tropical (5:38)
    [Crepúsculo Tropical]
  4. Ballade Dan La Forêt D’Ajoupa (4:47)
    [Passeio na Floresta D’Ajoupa]
  5. Bouillon (5:52)
    [Caldo]
  6. La Baie Du Robert (7:44)
    [A Baía Do Robert]

 

Les Mornes designam as regiões montanhosas das Antilhas, as alturas do país. São também os campos profundos, “os grandes bosques” que inspiram sonhos místicos e animam a imaginação de contadores de histórias e poetas.

Les Mornes foram os refúgios dos negros quilombolas, aqueles que seguindo seus atos de coragem e revolta para escapar da escravidão, foram perseguidos pelos colonos. Les Mornes, nossas montanhas, um lugar cheio de história e vida, onde melhor se sente e ouve o sopro do espírito, a morada dos deuses como dizem as lendas, fica nas colinas da Martinica, no interior do país, no meio da mata, onde nasceu a flauta de bambu: a travessa de seis furos, popularmente chamada de “bambu toutoun” (tubo sonoro de bambu).

“Você é descendente dessas colinas!”, foi dito, infelizmente – e talvez ainda dito – com ar altivo pelos da cidade, ao identificar a gente do interior, do campo, na tentativa de rebaixá-los, de gerar neles um complexo de ‘inferioridade’.

Max Cilla, em sua consciência de precursor do “bambu toutoun”, notou que em torno de Les Mornes reunia-se uma soma de vários atributos, predispondo-os a serem o símbolo dos valores naturais, culturais, da autenticidade do ser e da resistência a qualquer tipo de tentativa de alienação ou doutrinação. Por tudo isso, desde o início de seus esforços para restaurar este instrumento musical rural e dar-lhe um lugar de direito na organologia, ele se inspirou para legitimá-lo dando-lhe este nome: La Flûte des Mornes (A Flauta das Colinas). Ele, portanto, fez um símbolo vivo cuja respiração impulsiona e anima as energias da Vida, da Alegria e da Luz.

“Sou sensível ao caráter expressivo do sopro da vida e ao profundo sentimento universal que transparece em toda expressão musical autêntica”.

Com efeito, a partir de 1970, Max Cilla defendeu as qualidades desta flauta, não só como instrumento específico, mas como vetor de um estilo de expressão musical próprio do interior. Ele teve que perseverar por muitos anos para manter esta flauta, em um contexto onde a alienação geral a destinou a desaparecer. Sua pesquisa lhe permitiu desenvolver um método preciso de fabricação dessas flautas em todas as tonalidades e criar uma tablatura que oferece uma gama mais ampla de possibilidades técnicas.

Ao mesmo tempo, compôs peças de caráter tradicional e outras de música erudita que hoje fazem parte dos clássicos martinicanos. Toda essa criatividade contribui para que ele fosse reconhecido, no início dos anos 1980, pela crítica de arte, pela imprensa do país e pela opinião pública, como o precursor da flauta tradicional e o nomeassem de “O Pai da Flauta das Colinas”.

“Minha música é tradicional progressiva. Tradicional, porque a sua essência é extraída do belo ar, da sua respiração e dos seus impulsos rítmicos. Mas ao mesmo tempo, como sou um cidadão do mundo contemporâneo que vive toda uma síntese de culturas, mergulhei em muitas coisas belas de origens diversas. Acontece que expresso uma música onde encontramos os parâmetros e o lirismo do clássico e de certas sonoridades cubanas.”

 

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